quinta-feira, 11 de junho de 2009

A “tragédia de Sergipe…” de Duarte.

RIO — Há dias recebi, do José Cortes Duarte, o seu último livro, distribuído em Belo Horizonte, numa noite de autógrafos, para a qual o velho conterrâneo e amigo do escritor, Dário dos Santos, fez verdadeiro malabarismo para estar presente já que dias antes estava em Belmonte «acertando suas contas» com Nossa Senhora do Carmo, festejada em 16 de Julho.

É um livro de contos, aliás o segundo no gênero, que recebeu o título de «A Tragédia de Sergipe e Outras Narrativas.» O primeiro, «Vultos Sem Histórias», foi editado 'em 1972, alcançando. grande êxito. Do permeio Duarte editou "O Fogo e o Boi" que, par mim, deveria ser aproveitado pelo Ministério da Agricultura, já que o «livrinho representa o resultado da experiência adquirida, em mais de cincoenta anos de observação diária, dos hábitos, vícios e virtudes comuns à vida rural», conforme sentencia o escritor. Efetivamente «O Fogo e o Boi» se desenvolve sobre problemas prejudiciais à lavoura e à pecuária, daí a sugestão para que o Ministério da Agricultura procurasse difundi-lo entre os homens do campo.

Mas, voltamos «A Tragédia de Sergipe...», onde Duarte relata o período de sua movimentada existência, desde quando «se mandou» para Sergipe, onde gozou sua infância, seguindo a juventude passada em Belmonte e, finalmente, parando no interior de Minas, precisamente em Almenara, no Vale do Jequitionha, montando uma indústria de laticínios.

Logo de saída o livro relata a sua viagem de Salvador para Belmonte a bordo da barcaça «Guarani», comandada pelo velho mestre Jorge, saudoso condutor de veleiros. A citação da «Guarani» me fez lembrar de duas tradicionais barcaças, também transportadoras de mercadorias entre Salvador e Belmonte e seus timoneiros, como Jorge, conceituadíssimos em Belmonte. Eram a «Jacira» e a «Luzitânia», dirigidas pelos mestres Pompilio e Norberto. E como não lembrar do pequenino «Porto Seguro», da Bahiana que me proporcionou saborear pela primeira vez a legítima champanha francesa, distribuída pelos concessionários Jacob Sehneider & Rapold Manz, quando o «vapor» conseguiu se safar do encalhe ao transpor a barra?

Lá está o Spineli, do Circo, me fazendo lembrar do «Hermosa» e por dedução o inesquecível palhaço «Passinho», um dos melhores de todos os tempos.

E as reminiscências dos fatos ocorridos na caminhada do J. Duarte que nos faz lembrar da dupla Gago Coutinho-Sacadura Cabral, Eduardo das Neves, Symaco Conceição, amigo do velho maestro Messias Costa, Edú Chaves, os canoeiros do Jequitionha e o Catulo Cearense, lembrado numa comparação a Manoel do Norte.

Os dois «sumiticos» Quincas são lembrados pelas suas «virtudes». Um não reconhecendo seus salvadores e o outro, tirando proveito do velho estoque de berimbaus, durante a falta do gás (querosene), tal como os atacadistas atuais que imponham ao comprador ao suas mercadorias encalhadas quando o Interessado vai atrás de um produto mais vendável.

O Aricles me fez lembrR o Januário Pão Cacete e o «valente» Bote­lho dos «Vultos Sem História».

Tudo «sob medida» porém àquela do Bate-Estacas. é de «encher as medidas». O rebate falso da herança. A recepção festiva do «milionário» e a dificuldade de explicar o «equivoco» criado pelo «pândego de mau coração», efetivamente está de «lascar», como diria Zé Trindade.

Conheci o velho Eustáquio que residia na mesma praça praça São João onde eu morava. Era, de fato, econômico. Começou economizar «prá gastar» na velhice, porém se acostumou, e na velhice continuou a economizar.

Em Belmonte muita gente ainda se lembra quando Eustáquio faleceu e a conta que o seu médico apresentou, por ter assinado o atestado ds óbito.

Na época, constou que um amigo, dos escassos móveis do velho, fez absoluta questão de levar o colchão como lembrança. O empenho era grande e a sua vontade foi satisfeita.

O que pouca gente sabia era que o velho guardava toda a sua fortuna naquela peça, por sinal corroída pelo tempo.


Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 31/01/1979

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