RIO ─ No livro do ex-Secretárío da Fazenda do Estado da Bahia, Manoel Evangelista de Brito "Cartas a J Duarte", registrado ha tempos por esta coluna, há um relato, pelo qual confirmo o ditado de que o castigo vem a cavalo. Hoje já se diz que vem a jato.
O escritor lembra que quando era escrivão da Coletoría Estadual em Belmonte, candidatando-se a vaga de Coletor, foi "barrado" pelo então Intendente Municipal Cel. Alfredo Matos que, sob a alegação de que o pretendente era jovem e nem siquer possuidor do título de eleitor — naquele tempo não era obrigatório a apresentação de tal documento para tais casos — indicou para a vaga seu secretário Cel. Odorico França mesmo porque, justificava o chefe do executivo, seu "protegido" tinha uma ortografia bonita.
Não alcançando seu intento Brito se transferiu para Canavieiras onde, anos depois, foi nomeado Coletor, posição alcançada pelos próprios meritos.
Derrotado pelo seu opositor Cel Hermelino de Assis, Alfredo Matos foi para a Velha e tradicional Santa Cruz, tornando-se agricultor, cultivando piaçaba que periodicamente exportava para Salvador e Rio de Janeiro.
Certa vez o ex-Intendente, apareceu em Canavieiras com um carregamento do seu produto para o envio ao então Distrito Federal. A viagem Belmonte a Canavieiras, por causa da maré, retardou um pouco ocasionando a chegada depois de pronta a "papelada" para liberar o navio atracado no porto. O cororiel se dirigiu a Coletoria para ver se "quebrava o galho" e aproveitava o navio. Chegando a repartição estadual "deu de cara" com Manoel Brito na chefia do órgão, que poderia ser a sua "salvação da lavoura". Efetivamente com a sua proverbial boa vontade, tudo foi feito como "mandava o figurino" e a mercadoria foi despachada e enviada ao Rio de Janeiro.
Ao agredecer, Brito lembrou a ocorrência verificada anos atrás em Belmonte para dizer ao ex-chefe do executivo belmontense que quem estava agradecido era ele, pois não fosse a preterição em favor de Odorico J França, talvez ali em Canavieiras não pudesse retribuir, com o seu ato o bem recebido devido a sua transferência Mas no relato da ocorrência, o ex-Secretário da Fazenda, faz ligeira menção ao famoso "Grupo dos 42", formado sob a complacência do Cel. Alfredo Matos e de triste memória, já que foi uma página negra da história política do município sulino. Os seus componentes, todas as noites realizavam verdadeiras "caça" aos adversários políticos, tendo como o principal visado Aristóteles Duarte, negociante estabelecido com uma panificadora, correligionário incondicional do Cel. Hermelindo de Assis (Mili), justamente o que substituiu Alfredo Matos na chefia do executivo belmontense, determinando o esfacelamento do Grupo, cujos componentes desapareceram da noite para o dia.
Ao ler o livro de Manoel Evange1ista de Brito, procurei fazer um levantamento dos componentes do "Grupo dos 42" que certa vez, eliminou erradamente um jovem, pensando ser Julião São Pedro, músico da Lyra que, na época pertencia aos oposicionistas. Iniciei uma pesquisa durante minhas periódicas viagens a Belmonte, para assistir a festa em louvor a Nossa Senhora do Carmo.
Não foi fácil a tarefa a que me propus, já que poucos são os sobreviventes dos idos de 1910 a 1920, quando dos fatos. Estes poucos me forneceram informações incompletas, pois não consegui levantar a identidade além de cerca de 21, o que já foi muita coisa. E desta relação apenas uns 15 foram participantes efetivos da indesejável turma, que não tinha um chefe propriamente determinado, já que todos eram considerados como tal.
Nas minhas investigações apurei que participavam dos "42", dentre outros os seguintes elementos: Ascendino, Aramacã (doméstico do Intendente), Bandeirinha (em momentos de farra), Diolindo, Cassemirão, Cecílio (Fiscal Municipal) Maneca Araújo, Felipe Santiago que agrediu o representante Federal Dr. Epifânio Conceição), Gabrielzinho (agrimensor), Euzébio Quebra-Vara, Genésio, Terêncio Batista, Satu Benfica, Maciel Santana e José Cotó (oriundos da Lyra Popular) José Joaquim, Hilário Santos, Sérgio, Luizinho da Matildes, Tenente Mariano e Hormindo Dendê.
Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 14/10/1980
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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