quinta-feira, 11 de junho de 2009

Crispim e Crispiniano da Senhora.

RIO — Nas décadas de 1920 e 1930, as festas em louvor aos santos mais populares eram animadíssimas, principalmente quando comemoradas em casas particulares, tais como as dedicadas aos santos Antônio, João, Pedro, Cosme-Damião, Crispim-Crispiniano e Sebastião.

As turmas do futebol, comércio, estiva e até estudantes, sabiam onde todos os anos, podiam se encontrar.

No mês de Junho, em todos os recantos da cidade, se realizavam festividades quasi sempre terminadas em baile: principalmente quando fossem em homenagem ao casamenteiro



Antônio e ao santo das sortes,São João. Mas em Setembro e Outubro também recebiam homenagens expressivas os gêmeos Cosme-Damião e Crispim-Crispiniano. Eles recebiam louvores diferentes dos demais, com expressão ao mártir padroeiro dos estivadores e da cidade, São Sebastião. O azeite de dendê, por motivos que só o Rubens Correia pode explicar, se destaca nos festejes dedicados a estes . santos.

Em outras crônicas já me referi às principais casas que em Ilhéus, promoviam festividades em louvor aos populares santos citados, reunindo moças e rapazes em novenas, trezenas e tríduos, em casas de famílias. Na crônica do hoíe vou relatar uma ocorrência……

Senhora, uma rapariga "protegida" do mecânico Juvenal, costumava homenagear Crispim e Crispiniano, na sua casa, ali na Araújo Pinho, onde hoje é um estabelecimento comercial. Casa de dois andares, ela ocupava o segundo pavimento.



Senhora se preparava durante os 365 dias do ano, para realizar a festa do dia 27 de Outubro. Naturalmente escolhia seus convidados com, muito escrúpulo para evitar incidentes com as suas "clientes", ou melhor com os donos das suas "clientes» que, naquele dia não poderiam assumir nenhum compromisso. Ninguém entrava na casa sem a sua autorização. Para isto só ela podia abrir a porta da casa que, desde cedo começava a receber os convidados.

O altar dos santos ficava em frente a escadaria, obrigando os participantes, à entrada, fazer uma oferenda aos "meninos". Ao lado uma grande mesa tendo ao cento o peru assado que deveria ser destrinchado depois da meia-noite. O caruru, vatapá "e"outras "gulozeimas já estavam sendo distribuídos e pelo menos íntimos nada. Para os do peito" o atendimento seria melhor.

Eu participava da “turma da casa”. Justamente esta turma começou…… A tarefa era difícil, principalmente devido o fato da chave única porta estar em poder da dona da festa.



Dentre a nossa turma estavam Otavinho, Caetano Alcobaça, Carlos Rogaciano, Adamastor e Rubens Reis, um operador de cinema. Depois do planejamento, convidamos o chefe do destacamento policial, sarg. Manoel Alves e Martinho Saxofonista. Este teria a tarefa de prolongar o máximo na. execução de "Olhos Verdes", cantado pelo Rogaciano enquanto descíamos com o galináceo, justamente na hora em que Caetano estivesse dansando com Senhcra, obrigando-a a dar a chave a um de nós.

Tudo correu muito bem. O peru foi raptado, tendo servido de amparo a capa do sargento Manoel Alves, e levado para um restaurante de Garangau, na Paranaguá.

A descoberta do rapto foi uma tragédia. Senhora, chorando, ajoelhou-se ante o altar dos seus santos, e rogou uma praga com tanto sentimento que, todos participantes do roubo, após saborear um bem aparado ensopado do peru, preparado por Garangau tiveram que recorrer ao Ferreira do Posto, ali na Prefeitura.

Creio que Senhora nunca soube quem “afanou” a ave de Crispim e Crispiniano não souberam tomar conta.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 03/11/1978

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