RIO — Seguindo a tradição da minha família, estou alistado entre os católicos do apostolado romano, mais ou menos praticante. Assisto, sem regularidade, atos da igreja, mas nos ofícios em intenção aos que partiram para o além, faço questão de estar presente.
Sou do tempo em que «a oração que Cristo nos ensinou», começava com «Padre Nosso» e, no texto: «perdoai as nossas dívidas», assim como nós perdoamos aos nosso.devedorés», substituídas por «Pai Nosso…» e «perdoai as nossas ofensas..... »
Em Belmonte conheci vários padres, dentre eles Altino ( o político), Barreto, Granja ( o matador de andorinhas), Emílio (o que efetuou meu casamento), João Clímaco e, sobretudo, Evaristo Bitencourt. Este transferido de Ilhéus, depois da demolição da igreja de São .Sebastião, no Largo do Vesúvio, onde está erigido o magestoso templo, graças a Iniciativa de dom Eduardo Herberold, venerado, pela população ilheense.
Ainda me. lembro da visita a Belmonte do Bispo de Ilhéus, D. Manoel de Paiva, chefe espiritual de vasta região sul-bahiana promovida pelo padre Evaristo. Do que foi a estadia do santo padre à cidade tenho grata recordação, inclusive por ser "participante das festividades, como músico da Lira Popular. O saudoso bispo foi o celebrante da missa solene em louvor à N.S. do Carmo, padroeira local. Naquele tempo as festas religiosas eram brilhantes e arregimentavam católicos de toda a região do Jequitionha.
Foram três dias de homenagens a D. Manoel de Paiva, que se hospedou na residência da Professora Maezinha Guimarães, na Rua Mal. Deodoro, hoje parcialmente destruiria pelo rio. Nas saídas e nos regressos de sua Eminência a Lira e a 15 de Setembro se revezavam, acompanhando o visitante, tendo à frente suas comissões de diretorias. Os ofícios religiosos eram assistidos por centenas de fiéis, que se preparavam para o acontecimento religioso.
De uns tempos para cá o 16 de Julho perdeu àquele esplendor. Apenas reduzido número de religiosos mantém a tradição, comparecendo aos ofícios devidamente preparados. Pará nós, os belniontenses, que residimos «fora da terra», a festa, além do aspecto religioso, proporciona encontro com velhos conterrâneos para os «papos» recordativos, o que compensa enfrentar os 112 quilômetros de uma péssima estrada que separa a BH-101 da nossa cidade.
Padre Evàristo era conhecido pelo seu «grande amor» ao dinheiro. Era intransigente no cumprimento de sua tabela de preços para celebrar Santos Ofícios de encomenda. Missas festivas, fúnebres ou de corpo presente, acompanhamentos de enterros, alem de casamentos, batizados, crismas, novenários ou consagração, eram tabelados sem direito a redução.
Anualmente havia visita pastoral ao interior do município, começando por Boca do Córrego e findando em Pedra Branca, (hoje Itapebi). De permeio, paradas em vilas e fazendas, onde os fiéis se reuniam para batismos e casamentos além das tradicionais missas.
Numa dessas visitas pastorais, padre Evaristo, depois da peregrinação, passou dois dias em Pedra'Branca, ficando creio, na casa dos Stolzes, já que não aceitou o convite para ficar na Fazenda Estrela do Norte, de Cel. Juca de Vicente, chefe político da região.
O movimento foi intenso. Muitos batizados, casamentos, crismas, etc...
Othon Souza, filho, de Juca de Vicente, estudante em Salvador, escolhido para batizar um filho do tropeiro da sua fazenda, resolveu pegar urna peça em padre Jüvarïsto, procurando-o para «acertar o preço da cerimônia».
Chegou «desconversando», «enrolando" até que o pároco entendeu onde queria chegar o futuro padrinho e antes que Othon «abrisse o jogo», foi logo .dizendo: «Não filho. O batizado é 5 mil réis».
De pronto o filho de Jucá de Vicente como que surpreso retrucou: É só 5 mil réis padre? Pensei que fosse mais».
Abriu o envclope e retirou 3 notas de 5 e só deixou uma.
A reação do padre foi notada peia transformarão da sua fisionomia.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 26/09/1979
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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