RIO — O vigário estava tomando um banho de cuia, na casinha do interior cujo dono, por falta de acomodações, improvisou, na sala de jantar, uma divisão com duas toalhas, dependuradas num barbante. De repente, o padre se desequilibrou e ao procurar apoio na frágil divisão, se esparrama entre uma turma de fiéis que, pelo imprevisto da cena, começa a gritar, cobrindo o rosto e iniciando uma correria. Levantando-se com dificuldade e ante a assistência, o pároco exclama.
—. Afinal o que é isto. Será que vocès nunca viram um homem nu?…
São muitos es casos do personagem em pauta, o Padre João Clímaco, que acaba de falecer aí em Ilhéus, no hospital São José, onde estava internado há alguns meses.
Por quase quarenta anos, padre João comandou a freguezia de Nossa Senhora do Carmo, em Belmonte, onde era queridísimo e que. segundo informações não teve a sua vontade satisfeita, que era de ser enterrado no cemitério da cidade sulina.
Simples e comunicativo, o velho pároco era carioca do Meier. Em dias de festas, invariavelmente percorria todas as barracas situadas em frente a igreja do Carmo, na Praça na Matriz, Nas de jogo, desejando sorte aos apostadores nas de comestíveis e bebidas, participando das iguarias e, de vez enquando, provando uns aperitivos.
Certa vez, no novenário da padroeira, as cantoras, instaladas no alto do coro, iniciaram uma ladainha. Do altar; padre João Gritou: Esta' não. É muito grande assim eu não tenho tempo de assistir a minha novela.
Na missa festiva em louvor a Nossa Senhora do Carmo, naquele ano, resolveram instalar um serviço de alto-falante para que o santo ofício fosse ouvido pelas pessoas que não pudessem entrar na igreja. A santa cerimônia se desenvolvia normalmente quando o padre exclama para seu grupo de coroinhas:
─ Quem foi o corninho que soltou uma ''bufa'' aqui no altar?
Era mesmo imprevisível o saudoso vigário de Belmonte. Conta-se inúmeros casos de indiscrição do velho pastor que há anos, vinha demonstrando sinais de debilidade, porém insistindo em continuar à frente da chefia da tradicional igreja da Virgem do Carmo, celebrando o santo ofício da missa, no seu idioma tradicional, pois não se adaptou à reforma instituída pelo Papa João XXIII, apesar das constantes tentativas. Entretanto não podemos dizer que o pastor fosse um conservador.
Numa de suas visitas pastorais, pelo interior, padre João promoveu numa vila, um casamento coletivo, nos mesmo moldes feitos para crismas e batizados. Como sempre acontece nas visitas pastorais, muita gente das áreas vizinhas, apareceu para receber os sacramentos, acompanhadas de parentes e amigos, muitos quais se distraiam nos botequins e vendas.
Terminada a cerimônia do casamento, o padre nota que uma jóvem modestamente vestida, chorava. Procurou saber o motivo. Era que o seu noivo até aquele momento não aparecera . Depois de lamentar o ocorrido, o vigário se dirige aos presentes e pergunta: Qual o rapaz aí que quer casar?
— Eu, responde um assistente.
Depois de advertir a responsabilidade do seu gesto e receber a confirmação do candidato, o casamento foi cíctuado.
Segundo os presentes tratava-se de um rapaz trabalhador, o que foi comprovado através de um convívio feliz de muitos anos, do casal.
— Que diabo é isto? Vocês estão abandonando a padroeira da cidade devido a visita de Nossa Senhora D’Ajuda?
Foi esta a reação do padre João quando, em procissão comemorativa da visita da padroeira de Porto Seguro, Belmonte, e os fiéis locais quase em peso se acercavam da imagem visitante.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 14/12/1978
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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