quinta-feira, 11 de junho de 2009

De Jaguaré ao goleiro País

RIO —'O Vasco da Gama alcançou fama no futebol quando em 1923 subiu para a categoria principal, do campeonato carioca, então disputado peío Fluminense, América, Botafogo, Flamengo, que vinham disputando jogos desde o inicio do século. Depois do acesso, conseguiu dois campeonatos invictos e daí marchou para o Estádio de São Januário, por muitos anos até a construção do Maracanãr o principal campo de futebol da ex-Capital Federal.

A portuguesada residente no Rio afluiu ao Vasco, dando uma popularidade jamais alcançada quando se limitava" apenas aos esportes náuticos, onde era imbatível e conservou a liderança por muitos anos até que o Flamengo conseguiu superá-lo, checando a conquistar o titulo de campeão de Terra e Mar, previlégio dos vascainos.

Esta introdução se faz necessária para o assunto desta crônica. É que, no mês passado, os torcedores de futebol foram surpreendidos com o ato do goleiro do América, País, por sinal um dos melhores dos gramados carioca, inconformado com o seu ataque, numa partida com o Goitacas, resolveu sair da sua meta e tentar obter o tento salvador. Foi, de fato, uma decisão inusitada, porém não inédita.

Nos idos de 1930, surgiu no Vasco da Gama um goleiro chamado Jaguaré, saído do bairro da Saúde, pelos lados da Gamboa. Seu nome era Jaguaré Bezerra de Vasconcelos e ficou afamado pelas piruetas após espetaculares defesas. Era componente da mais afamada defesa surgida do Rio e que todos, até os mais ferrenhos adversários, sabiam de cor e salteado: Jaguaré, Brilhante e Itália, Tinoco, Fausto e Mola. Era a defesa vascaina em cuja linha estava os não menos afamados Mário Matos e Russinho.

Mas o auge da fama do "Jaguaré se daria quando seu clube enfrentou uma equipe paulistana, possuidora de dois dos maiores zagueiros de todos os tempos Grané e Deldébio. Era difícil transpor esta linha, na época em que se condicionou o futebol de jogo «pra homens». Naquele jogo houve uma penalidade máxima contra o Vasco e quem foi cobrar foi Grané, de possante chute e que jamais errara a punição.

Espectativa geral. O violento tiro partiu. Jaguaré consegue espetacular defesa. Efetivamente caíra, mas rapidamente se levantou saindo com a bola girando sobre as pontas dos dedos. Era a consagração.

Tempos depois, já em declínio o «Dengoso», como carinhosamente era tratado; foi para a Espanha e de lá para França, onde, ern Paris se Inscreveu no "Olímpique" conseguindo voltar aos velhos tempos de sucessos. Lá não só defendia como era encarregado de cobrar penaltes e com enorme sucesso. Mas, como um dia a «casa caí». Esta caiu, numa partida em que o “Olimpique” não podia perder sob pena de ser desbancado da liderança pelo adversário. Jogo difícil com os atacantes ─ como os ataacantes de América no jogo contra o Goitacaz ─ sem conseguirem vazar a meta adversária. Jaguaré inconformado deixa a meta e, como dianteiro, consegue fazer o esperado tento.

Justificando a sua atitude, na época declarou que era a Reação dos goleiros brasileiros, quando seus companheiros não faziam os tentos esperados.

Tempos depois surgiu uma nova versão sobre a atitude de Jaguaré. Escolhido para bater uma penalidade máxima contra seu adversário, «Dengosó» proporcionou ao seu adversário espetacuiar defesa e depois não conseguiu chegar a tempo, na sua meta, para salvar seu quadro da derrota. obtida através de rápido ataque adversário.

Há cerca de oito anos o popular geleiro vascaíno falecia no interior de Minas Gerais completamente abandonado, mas seu funeral foi custeado pelo clube que lhe deu fama.

Mas no tempo de Jaguaré, era comum a notícia da morte, abandonado e na miséria, verdadeiros «astros» do futebol, o que não acontece hoje devido as precauções tomadas pêlos jogadores através de organizações sociais por eles organizadas.


Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 27/04/1979

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