quarta-feira, 17 de junho de 2009

Os últimos vestígios da “State”.

RIO — JORNAL DA MANHÃ nos traz a notícia do inicio da demolição da sede da Estação Ferroviária da Estrada de Ferro de Ilhéus à Conquista, construída há mais de 70 anos, na Pimenta de Baixo, nas imediações da nova Praça Cairu, hoje, segundo o mesmo jornal transformada numa imensa garagem.

Há meses, nesta coluna, me refe­ri como foi idealizada a construção da tradicional ferrovia do cacau, desativa da inexplicavelmente pelo então Ministro da Viação Juarez Távora, mas que os ilheenses tomaram como revide aos parcos votos recebidos na região quando o chefe da revolução de 1930 se candidatou a Presidência da República, creio, para suceder ao marechal Eurico Dutra e foi fragorosamente derrotado por Getúlio Vargas. Mas o fato prejudicou a lavoura cacaueira e, quando da elevação do preço do petróleo, há poucos anos, veio confirmar o erro da medida que atingiu muitos ramais igualmente desativados e que deixou milhares de funcionários em disponibilidade remunerada.

Depois de desativada, os responsáveis pela guarda dos pertences da ferrovia acharam por bem cercar a estação através de um muro anti-estético que tomava aos pedrestes uma enorme área, felizmente demolida para os trabalhos da remodelação da Praça Cairu.

No local da Estação surgirá um moderno edificio-sede da Ceplac, que lidera, ou melhor que orienta e auxilia a lavoura cacaueira.

Na área, há muitos anos, existia uma feira permanente, com pequenos barracos, além de um campo de futebol, onde os ferroviários, nos intervalos das etapas diárias e mesmo aos domingos realizavam «babas» dos quais surgiram extraordinários jogadores, tais como Janúncio, Neneu, Manoel da Hora, Domínguinhos além de outros «menos votados» como Bitatis, Bode de Duca e Turiba. Foi naquele campo que surgiu a idéia de fundar o Guarani que deu muita dor de cabeça nos tradicionais clubes da cidade.

O prédio mais importante construído, na Pimenta de Baixo era o do Cel. Ramiro Berbert de Castro, dono de toda a área e hoje completamente abandonado. Depois surgiu a fábrica de Chocolate de Hugo Kaufmann, antes mesmo da Cia. Industrial, dona do cais do porto, construir os terceiro e quarto armazéns. Perto da feira, existia um depósito de madeira, que tomava grande parte da área, um enorme areal.

Muitos amigos prestaram serviços a importante ferrovia em cujo escritório estavam Pedro Ribeiro e João Batista, tenentes do Tiro de Guerra 500, Humberto Ribeiro e Crescencia-nos Santos, representantes do Flamengo na LIDT. Também prestavam serviços a organização, inicialmente superintendida por mister Hull, que representava os acionistas ingleses, dos quais Bento Berilo conseguiu o apoio financeiro para a sua iniciativa, idealizada em 1905. Dos maquinistas destaco os velhos camaradas de excursões, Zé Gato, De Mola, Francisco e Paizinho. Dos fiscais, os ditos chefes de trens, ainda tenho na lembrança a figura media de Lapernet, tipo daqueles que nós chamamos de «Caxias», tal o rigorismo na conferência do «passe» e stickts» dos passageiros. O carona comia um grosso danado» com ele. Não deixava passar nada.

Lá estavam, nas oficinas, Censo, dos Batutas José Cerqueira, do Santa Cruz; Estermito, o grande remador do «State» e «Major», o exímio violinista da rua da Linha em frente ao Sétimo Céu ,onde se juntava a uma turma para exibir seu «virtusismo». Não posso me esquecer do Cantidio, o eterno revolucionário .

Costumava às 17 horas assistir a chegada dos trens de passageiros e comigo, invariavelmente, Adamastor Adami, «beque» do Flamengo. Numa tarde, estávamos apreciando o movimento e fomos acercados de duas pesssoas que humildemente nos pediu para acompanhar o enterro de um seu parente. Não fizemos de rogado e nos dirigimos ao vagão onde estava, o morto. junto ao qual não havia mais ninguém.

Efetivamente apenas nós quatro íamos compor o cortejo. O extinto era gordo e as alças do caixão foram postas ao contrário, ou seja, com o vinco pra cima.

Uma verdadeira odisséia. E o pior é que nem procuramos saber quem era o pesadíssimo defunto.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 10/11/1978

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