quarta-feira, 17 de junho de 2009

Os pretos no futebol ilheense

— Segundo os jornais, só agora o selecionado inglês terá, no seu quadro, um jogador negro.

Esta notícia, naturalmente vai surpreender muita gente mas, representa o reflexo do que foi o futebol nos primórdios, inclusive no Brasil, onde havia um certo preconceito contra os negros, uma vez que os clubes formados no século passado e até nas primeiras décadas deste, tinha como lema que futebol deveria ser praticado por elementos da sociedade, particularmente por brancos.

No Brasil, quem quebrou este «tabu", foi o Vasco da Gama, quando cm 1923, ao alcançar a primeira divisão, incluiu na sua equipe o crioulo Ceci, oriundo de um clube de Engenho Novo, que disputava peladas", chamadas aí no sul-bahiano «babas» ou «rachas»

Depois os outros clubes adotaram a mesma providência vascaína, inclusive o Fluminense que, nos idos de 40 contratou Bigode, um dos grandes jogadores brasileiros, figurando diversas vezes na seleção nacional e que até hoje carrega a fama negativa de ter proporcionado a "Ghigia"' a dar o Campeonato Mundial de 1950, aos uruguaios.

Más se o tricolor contratou Bigode para a sua equipe, não abriu excessão para que os seus jogadores profissionais pisassem nos seus salões durante suas festas sociais. Neste sentido, ainda é lembrado o incidente ocorrido com o excelente jogador bahiano Pedro Amorim, já bacharel porém profissional do quadro, impedido de participar de uma festividade social do clube.

No Flamengo, o popularíssimo, na época não fugiu a regra. Também existia o preconceito, que se estendia até na escolha dos associados.

Mas tudo é coisa do passado e o preto, depois da Lei Afonso Arinos, é recebido em todas entidades esportivas até, é o caso de se dizer, na rcprcsentacão inglesa.

Dentro do assunto não podemos deixar de lembrar, o cidadão Pelé, lídimo representante brasileiro em todos os quadrantes.

Em Ilhéus, no início também houve a predominância de "brancos nos clubes locais, onde se destacava o Satélite, de funcionários do Banco do Brasil formados, e depois, de estudantes. Depois teve que se curvar a evidência incluindo na sua equipe alguns crioulos, dentre os quais Manoelito Silva, que chegou a ser seu treinador, o chamado técnico, hoje. Lá também passou o "mignon" Pipiu.

No Flamengo estavam Jorge, Rafael e Rogério, dentre muitos pretos e "mulatinhos rosados".

Mas, nesta crónica, quero render uma homenagem aos pretos do Vitória, representados pela família Soares Lcpes. No rubro-negro, entre Dominguinhos e Deouro, estavam os Lopes, capitaneados pelo Aloisio Lopes, o "Lulu Lopes''. Lá estava o Lopeu, estava o Tusca estava o «Seu-Vaga», Olhos do humanitário Dr. João Soares Lopes, o torcedor número um do Vitória, que também mantinha no seu quadro o extraordinário Neneu, da endiabrada ala Januncio-Neneu ou Neneu-Jagúncio, a maior ala esquerda ilheense, de todos os tempos.

Lá em minha Belmonte também existiam bons jogadores negros, porém apenas vou destacar uns dois. Filó, um grande ccntro-médio, conhecido de Ilhéus, como também o foi Zé Hugo, que findou seus dias em Salvador, quase abandonado, depois de passar pelo Bahia.

Em Belmonye estavam os crioulos Mururé e Badu.


Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 13/12/1978

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