Encontro de velhos amigos em Salvador.

RIO-— Foi de fato, um encontro até certo ponto emocionante aquele que há dias realizei na .velha Salvador precisamente no Politeama de Baixo em Campo Grande, tradicional "praça dos Caboclos das Festas de Dois de JuIho, na Bahia.

O motivo do mais alto sentido de solidariedade humana, foi a visita a uma criatura excepcional, oue conheci há cerca de 50 anos, membro de uma família simples moradora da aprazível Sambaituba, e que hoje considero como componente da minha família.

Estou falando da minha comadre Clavelina Duarte da Silva, e que, com seu irmão, professor Sandoval da Silva, são os únicos sobreviventes,

da família do Cel. Ramiro Duarte Leitão da Silva, prestigioso chefe político ilheen-se, no tempo em que a chefia política era de fato exercida com seriedade e respeitada, inclusive quando o mando lhes fugia, por mudança da situação.

Há dias havia recebido a notícia de que a comadre havia sofrido um ata­que cardíaco c seu estado de saúde inspirava sérios cuidados. O problema já havia ocorrido há dias. Imediatamente, com 'minha esposa resolvi \'fazer uma visita àquela que levou o meu primogénito a pia batismal e prepararãoa viagem que foi feita sem demora.

Chegando s Salvador imediatamente entramos cm contato com o professor Sandoval, par» Desprezar a visita, evitando o u e n nossa chega d a ouropa e simplesmente, pudesse agravar a situação da enferma". Mas como prevenida," O encontro foi emocionante, com paciente tentando disfarçar o seu isemociona!

"Ao chegar ao vasto e simples apartamento Do velho amigo, me veio a lem branca a casa do saudoso Ramlro, em . Sambaituba, cercada de coqueiros e cajueiros, tendo n frente um rio que supria a localidade de peixes e mariscos . e de tempos em tempos cardumes n _- cassaris, supria-a população ,de parcos. . recursos, numa espécie de "salvação da-"lavoura". Via a um canto, na sua "pre­guiçosa", o velho e pacato Ramiro, cpreciando seus visitantes «enfrentarem'; os almoços, com os mais variados carda pios. Lembrei da grande festa de recepção ao Sandoval, quando chegou d-capital com o seu "canudo de papel". Festa que durou três dias, transformar* do Sambaituba num verdadeiro carna­val em plena quaresma.

Enquanto a patroa assistia a co­madre, que vinHa recebendo urn apoie irrestrito da sra. Sandoval tis Silva .passamos em revista os idos de 30, os bons tempos de Ilhéus, trazendo a bai- -Ia os tradicionais políticos como Senor liiavigne, de Aritaguá; os Siufos, de Agua Branca; os DeI'Reis, de Castelo Novo; Ciriaco Marinho de Sá, d'e Ban­co do Padre; Abelar Pessoa de Olandí: o velho Kloi de Almeida, quando na cr Pi rangi; os Amoríns, nu ex-Agua Fre­ta, toda a conversa com veladas risa­das p ara não incomodar a enferma,

cujo estado de saúde não se. apresenta­va tão grave, uma vzz que a paciente conserva uma •' lucfflea"jmpressionan*'

Lembramos dos jogos de futebol nas fazendas quando os almoços da' de-legação visitante eram excepcionais e a? encarregadas de servir insistiam mali ciosamente para'que oB -Jogadores ripe tíssem os pratos.

conversa, era o padre Celso que, na !|

. época era tido! como um vigário "avan­çado» . Ele era presença indispensável nas festividades religiosas --J\ região, onde demonstrava ser. 'de' "fato/ um «bom papo»,"porém incontestavelmen­te uni melhor «garfo?. Nos lautos al­moços, como autoridade que era, fica­va sempre à cabeceira da mesa par? onde, invariavelmente se.eïiiam 'todos os pratos do «ágape*. Não "deixava um só sem receber o seu «aval».

Certa vez, em Olandí, o padre Cel­so- comandava uma lauta' mesa scrvïn especialmente pela professora Maezi— nhã. A variedade de pratos era enor­me e o vigário não deixava pa^-ar um. Se servia de totíos para o desprazer da |j turma. Ao final do almoço surge uma travessa com um grande robalo ao mo­lho .

" " Por" um 'descuido da professora- o saboroso prato foi entregue aos com­ponentes da mesa que estavam ao oposto yt-Q s>:,-ïâre apas, as -mr^ só prato " 'devorado ?j'eíes 'partitïipíïïttíãí do 3-Inioco, cravou, por cínia *3os n.cu-los um olhar de repreensão, notado por todos.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 15/05/1979