Eu e minha esposa Maria do Carmo— acabamos de chegar da velha Bahia — Salvador mais precisamente — onde assistimos a missa pelo 30º dia do passamento da comadre Clavelina leitão da Silva (Moçasinha), celebrada na Igreja da Misericórdia, uma das mais velhas da cidade. Dois meses antes havíamos participado dos funerais de outra comadre, a parteira Alice Rosa Bonfim "gente de confiada"1 do Dr. Soares Lopes.
Tratta-se de duas maravilhosas criaturas que foram personagens dos momentos mais marcantes da nossa vida, pois enquanto dona Alice prestou assistência ao nascimento do nosso primeiro filho — Rubens Antônio — Moçasinha iogo depois, juntamente com o cel. Abellar Vítor Pessoa, paraninfava o ato do batïsmo, do recem-nascido, na Igreja de São Jorge.
A amizade com dona Alice Rosa, esposa de Pedro Benevenuto, foi cimentada em 1934, após meu casamento efetuado em Beimonte quando fui morar na Rua do Café, perto de sua casa. A particularidade da rua, que fica perto do Cemitério de Nossa Senhora da Vitória, era qua, na época, numa área de cerca de 40 metros, residiam nada menos do que três Josés. O comerciante José dos Prazeres, o funcionário público municipal José dos Reis e o devoto de Santo Antônio e mestre de obras José Luiz. Lá também morava o "mangabeirista'' Cecê da Recebedoria de Rendas. Todos os moradores formavam uma só família e transformavam a artéria numa das mais animadas da cidade, durante as festividades juninas.
Meu conhecimento com a Clavelina datava do início da década de 30 quando, juntamente com Lelinho e Teixeira, aliadas ao Deusdedith Pinto (das Carroças) percorríamos as localidades servidas pela Estrada de Ferro, compreendidas entre Ilhéus e Itabuna, com seus seus ramais, participando de excursões esportivas aliadas a festividades religiosas. Dentre tais localidades uma das preferidas era Sambaituba, onde se destacava a figura simples e respeitável do Cel. Ramiro Duarte Leitão chefe de numerosa, educada e comunicativa prole fornada por Climério, Agenor, Donatila, Clavelina e Sandoval, dos quais sobrevive o último, professor em Ciências Contábeis, radicado, há muitos anos em Salvador. O tratamento que a a família dispensava aos visitantes de Sambaituba era o chamaris responsável pelo crescente número de amigos que a família possuía na vasta região cacaueira. Daí a afeição que tinha pela turma de modo geral e, em especial por Moçasinha, figura obrigatória nas festividades religiosas, quando fazia "par constante'' com a professora Mãezinha nos encontros em Oíandi, Juerana, Água Branca e Banco do Pedro, nas visitas pastorais.
Como esquecer àquela pequena silhueta de olhos claros esverdeados — inconfundível marca da "clã" Ramiro Duarte — atendendo com extrema paciência a nós todos, sempre preocupada no desempenho de suas funções de recepcionista a grupos heterogêneos, reunidos nas festividades obrigatoriamente de caráter popular. Certa vez em Olandi notando que o padre Celso era o mais "municiado"' na hora do almoço já que todos os pratos obrigatoriamente passavam a sua frente, por determinação da professora Mãezinha, Clavelina conseguiu que uma travessa conduzindo um bem criado robalo, fosse entregue do lado oposto ao do "bom garfo" Celso que vendo a "trama” disfarçadamente demonstrou desaprovar a jogada. Na festa de formatura do Sandoval a prole do velho Ramiro demonstrou sua capacidade de recepcionista de primeira classe.
Por duas vezes fui hospede de Sambaituba sendo carinhosamente recebido pelos comandados do saudoso "pagé". A primeira para um período de restabelecimento da saúde e a segunda para deixar passar a "onda" dos comandados do Cel. Mainard, quando do Golpe de Novembro de 1937, que não gostaram de uma reportagem sobre a sua conduta.
Esta crônica é uma homenagem as minhas comadres Alice e Moçasinha cuja transferência para o além nos deixa de sentimentos e saudosos. O que ameniza é a certeza de que ao chegarem do outro lado" vão encontrar uma turma que durante anos proporcionou a todos momentos de encantamentos com seus maravilhosos trabalhos. Dentre eles estão Fernando Leite Mendes, Vinícius de Moraes, Ismael Silva, Cartola, David Nasser, Almirante, Abel Ferreira que ao som do baterista André, cantarão suas mais belas poesias. Elas merecem tal homenagem.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã Ilhéus/BA 17/02/1981
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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