RIO — Dias antes, já havia lido, no Informe JB — Coluna da minha preferência, no "Jornal do Brasil" — o tópico em que o articulista, dentro do seu tradicional e satírico estilo, afirmava que "os fazendeiros de cacau se deliciam "ao mar", em escunas caríssimas, ao largo de Ilhéus, nos fins: de semana".
Achei muito natural que os fazendeiros estivessem se modernizando. Afinal com suas extraordinárias rendas, obtidas com a alta do preço do seu produto que, há cerca de quatro anos, ninguém acreditava, não era justo continuassem, os fazendeiros, com seus tradicionais gastos, ou seja: casas na sua cidade, em Salvador, Rio e São Paulo, em alguns casos, adicionados com mais uma família. Repito que não era justo ficarem os fazendeiros -— que nunca estão satisfeitos com os preços do seu produto — rotina de muitos anos quando a atualidade é bem diferente e todos procuram se sofisticar, Penso até que um iate ainda é pouco. Que tal um avião?
Mas, se assim eu penso, o mesmo não acontece que o, para mim, jovem Fernando Tavares Dórea, filho do meu antigo chefe Francisco da S. Dórea, nascido, creio que na Rua da Linha e posteriormente, mudou-se para a Av. Soares Lopes, gozando as delicias de uma belíssima praia, enquanto seu pai fazia fregueses e amigos na sua loja Variedades, na Rua Pedro II, "a expoente máxima dos preços mínimos".
Até certo ponto, entretanto, acho justa a reação do fazendeiro e produtor. O que estranhei foram os termos, poucos corteses, usados para contestar a nota do apreciado articulista, diferentes dos que, certamente, seriam usados, pelo extinto fundador e diretor do "Diario", jornal que modificou as normas adotadas, na época, de retalhiações aos adversários e suas famílias, com resultados, muitas vezes desastrosos.
Solicitar ao articulista do "Jornal do Brasil", um mínimo de respeito por uma comunidade responsável, como a dos fazendeiros de cacau, porque estes sustentam este País, com as divisas que, sobem a mais de l bilhão de dólares por ano e que este bilhão "talvez sirva para para pagar o papel de imprensa, importado, a fim de que um inconsciente tenha campo para escrever tamanha sandice", é mesmo o fim.
O que poderia dizer o Zé Povinho, incluindo os trabalhadores rurais, que vêem "guentando" os sucessivos aumentos das autoridades fiscalizadoras do País?
Não sei se é o caso do fazendeiro-produtor, porém grande parte dos seus colegas, que até pouco tempo estavam dispostos em "mudar de ramo”, mantém armazéns ;e, o que é pior, obrigando os trabalhadores a fazerem "arrumação" no seu estabelecimento que, sem pagar impostos, vende a mercadoria por preços incríveis.
Dizer que, a comunidade dos fazendeiros precisa de um mínimo de respeito só porque divulga notas que, em absoluto ferem a sua idoneidade, francamente não entendi. Creio que também a maioria absoluta dos agricultores da vasta região cacaueira não entendeu pois, se assim fosse, não haveria espaço, no jornal carioca, para receber cartas de protestos contra a insólita nota, para mim, pitoresca e gozadora. Estive ultimamente em Ilhéus, onde notei muito progresso e uma febre de construções. Muitos prédios — velhos e até mais ou menos novos — demolidos para dar lugar a agências bancárias e casas residenciais. A cidade crescendo por todos os lados e varando alturas. Parece que está voltando aos idos de 1920.
Nesta grande movimentação, de fato, não vi um só veleiro;"ao maré", em compensação lá estavam" atravançando as ruas e avenidas belos e possantes carros nacionais dirigidos ameaçadoramente sem "um mínimo de réspeito à comunidade", pelos filhos daqueles que formam uma "classe progressista e laboriosa através do seu trabalho diuturno", sem tempo portanto, de frear os instintos dos seus motoristas.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 15/08/1979
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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