quarta-feira, 17 de junho de 2009

O divórcio e as eternas desavenças.

RIO — Sou eleitor incondicional do senador Nelson Carneiro; Inicialmente ncs idos de 1950, quando da sua candidatura ao Legislativo carioca pela União Democrática Nacional, pelo srimples e convincente fato de se tratar de um conterrâneo e depois, devido a sua campanha em favor da implantação do divórcio no Brasil. E olhe que sou bem casado há cerca de 45 anos .

O senador depois de uma oposição árdua, dirigida pelos católicos, con seguiu seu intento e, com isto, uma, podemos dizer, cadeira cativa na alta Câmara, contrariando um grupo de adversários poderosos, como se verificou na última eleição.

Mas será que o divórcio solucionou o problema dos maus casados?

De modo geral, creio que não. De iato uma boa parte dos casais aeísu-justaáos, mas de situação financeira previlegiada, conseguiu solucionar seu problema que, através de uma viagem ao México, já estava resolvido, porém a maioria, por motivos burocráticos e financeiros, continua no mesmo.

De modo geral a instituição do divórcio no Brasil foi um avanço, pois não era possível que, por motivos plenamente injustificáveis .nosso país continuasse na retaguarda da marcha vitoriosa, em quase todo o mundo, da legalização do distrato do casamento. Finalmente até na Itália o divorcio foi instituído, sem afetar a dignidade dos católicos.

Mas, apesar do divórcio, os problemas conjugais continuam. As brigas, os desentendimentos ,os atritos entre casais vão se repetindo e as separações em muitos casos, não serão legalizadas ,como era de se esperar.

Casos como o acontecido em Pontal, há muitos anos, quando um esposo enfurecido esfaqueou os órgãos genitais de sua companheira e dias depois estavam unidos outra vez, vão se repetir.

Raro de acontecer será o ocorrido na minha Belmonte-Bahia, onde um macumbeiro chamado «Pitoso», depois de separado muitos anos, da esposa e desta se entregar a "vida fácil", reiniciaram a vida como simples amantes. E o importante foi que, corno amantes, nunca mais brigaram.

Aqui, no Rio, tenho visto muitos casos de casais que vivem maritalmente se recusarem a casar, sob alegação de que após confirmarem o "até que a morte nos separe, o sossego do lar se transformará.

Diariamente os jornais publicam crimes ocorridos devido a ciúmes e infidelidades conjugais o que confirma o meu ponto de vista de que a luta pelo divórcio, encetada por Nelson Carneiro, em absoluto atingiu o objetivo do senador fluminense.

Há meses, um velho companheiro, morador em Realengo, quase meu vizinho, alegando incompatibilidade de gênios, só verificada após longos anos de união civil e religiosa, abandonou o lar e foi morar no interior.

Encontrando um conhecido, mesmo lamentando o ocorrido, se mostrou satisfeito com a separação. Durante a conversa confessou que, da separação, apenas sentia saudades do jardim da antiga casa, que ele cuidava com carinho,

O conhecido que era intimo do casal, imediatamente procurou a esposa-abandonada e, depois de um longo "pápó», informou sobre o encontro com o outrora companheiro e confidenciou o que ouvira acerca da separação e da saudosa lembrança do jardim.

A mulher ouviu pacientemente o «recados», sem demonstrar reação.

Mas no outro dia, pela manhã, mandou destruir o jardim.


Rubens E Silva. Jornal da Manhã Ilhéus/BA 07/02/1979

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