quinta-feira, 11 de junho de 2009

“Cartas a J. Duarte” um livro de recordações.

RIO -- Chegando a Salvador para o V Congresso dos Aposentados e Pensionistas do Brasil, como sempre, fui vsitar, na Papelaria Monteiro, Carlos Augusto, filho uo saudoso jornalista, Carlos Marques Monteiro, meu mestre em arte tipográfica. Depois de rápida polestra. tomei conhecimento de que Manoel Evangelista de Brito, o carteiro de Belmonte, que pelos seus próprios méritos chcgcu a titular da Secretaria da Fazer da de Ebt-do, havia publicado um livro, distribuido em recente tarde de autógrafos.

Tratava-se de "Cartas a J. Duarte" e, no lançamento, estava presente o principal personagem do escrito, José Cortes, Duarte, hoje radicado wm Almenara no Vale do Jequitionha, Minas Gerais. autor de "Vultos Sem História"'. "O Fogo e o Boi e "A Tragédia de Sergipe e outras narrativas, assinalados nesta coluna.

De possee do endereço do escritor, do qual não tinha notícias há anos, fui seu encontro, em Nazaré, num recanto de modernas construções, escondido pelo vestuto Colégio Central da rua Joana Angélica, entre a Praça da Piedade e o tradicional Campo da Pólvora ou melhor, na Praça do Fórum. Num amplo apartamento, mobiliado sobriamente. Um piano me fez lembrar um levantamento em que juntamente com Etelvino Flores, assinalamos cerca de 23 pianos existentes, nos idos de 1920 até 1930, em reridências particulares em Belmonte. Além da esposa, filha e neta, estava em casa o genro Gerard Lopes La Falc, da coordenadoria do Patrimônio do INPS, aqui no Rio.

A fisionomia e a lhaneza de trato não mudou em Brito que, por motivos amorosos teve que abandonar Maragogipe, sua cidade natal e se exilar em Belmonte, levado por Braz Ferreira, ou seja o Braz do Hotel. Tinha 16 anos. Seu primeiro emprego foi proporcionado por Cursino Pereira Leite, agente do Correio, trabalhando como carteiro. Depois substituiu um escrevente do Cartório do português José Vencedor, de onde chegou a titular da Secretaria de Fazenda do Estado da Bahia, no secundo governo de Juraci Magalhães no periodo de 1962/1963.

Depois de um rápido "papo", motivado pelos meus afazeres no V Congresso que impediram, centra a minha vontade de ouvir gratas e saudosas recordações daquele Belmonte da Rua dos Quartéis, do Bouquete com suas palmeiras imperiais e da Rua da Ponte, tragadas pelo Jequtionha, fui premiado com um exemplar de "Cartas a J. Duarte”. A suave palestra ío amenizada cem saboroso refresco servido por dona Glorita esposa do escritor.

Tendo exerci ao sua função em Belmonte, Canavieiras e Ilhéus, Brito fez desfilar no seu livro — baseado na correspondência mútua com Duarte — personalidades que fizeram história no Sul do Estado. De Belmonte estão Carlos e Afonso Monteiro, Joaquim Magalhães, jornalista. Senador Wenceslau Guimarães. Os intendentes (prefeitos) Alfredo Matos, Dermeval Viana e o forasteiro Augusto Leal Coelho da Rosa, Cardoso, o inve:en;do "pau d'água”, Cecílio Cara de Galo, Aristoteles Duarte, Maciel Santana e o Grupo dos 42, de triste memória. O sarrgento Olegário do Tiro 353 e Mariquinha Cacheado, e outros, foram lembrados de Canavieiras. De Ilhéus estão Misael Tavares, senador Pessoa, Euclides Caldas c dr. Mário Guimarães Tourinho, dentre outros.

Brito no seu livro, conta que um prefeito de Belmonte, o forasteiro dr. Augusto Leal, apelidado por "Pé de Anjo", por usar sapatos de bico fino, intrigado com os grupos que todas as tardes ficavam no chão da Matriz e na quitanda de Pedro Serra, reolveu dar-lhes uma lição. Julgava todos malandros, não acreditando que se tratava de pessoas de destaque nos mais variados setores da cidade. Faleceu na via públicaa um indigeme e o prefeio mandou convocar os "malandros” para acompanhar o féretro. A turma de Pedro Serra não levou cm consideração o convite, mas a turma do oitão da igreja "topou a parada"' e na hora aprazada, compareceu ao gabinete do prefeito, devidamente fardada, cada qual com a indumentária correspondente a sua patente de oficïal da Guarda Nacional. Eram todos da sociedade local.

E, ante surpresa de “Pé de Anjo" fizeram questão de acompanhar o indigente, Foi um enterro inusitado, mas o intendente dr. Augusto Leal Coelho da Rosa no outro dia regressou ao Rio de Janeiro de onde não deveria ter saído, e Belmonte perdeu um ótimo administrador.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 13/11/1979

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