RIO – Uma triste noticia esta de Belmonte/Bahia: a igreja de Nossa Senhora do Carmo, foi parcialmente destruída, com a recente cheia da Rio Jequitionha, havendo pouca esperança de que ela resista a um total desaparecimento,
Uma verdadeira catástrofe para os belmontenses em geral e, particularmente, para os milhares de devotos, filhos da cidade bahiana que, espalhados por todo país. periodicamente se reúnem, no dia 16 de julho, para agradecerem as graças, recebidas da Virgem padroeira.
Efetivamente, de há muito o caudaloso Jequitionha vinha destruindo enormes áreas da cidade, sendo contido graças aos trabalhos executados pelo Departamento de Rios e Canais, nos idos de 1930, sob a chefia do engenheiro Cândido Lucas Grafe, quando foi construído um espigão na altura do Freire, desviando a correnteza para o lado oposto da sede do município, dando um basta aos prejuízos que o rio vinha causando, fazendo desaparecer além do cemitério velho, nas aningas, as ruas do Quartel, do Ponte, do Gameleiro, do Cajueiro, do Boquete, Alfredo Matos, Pontal, Velha Rosa, Visgueira e parcialmente a Ilha das Vacas e Preguiça.
Na época, a população reclamava da morosidade dos trabalhos e dos gastos excessivos que a comitiva Cândido Grafé fasía com festas dançantés e comemorativas. Houve até quem dissesse que as garrafas de cerveja e outros líquidos consumidos, davam para desviar o curso do rio.Mas, finalmente, o espigão e o cais ficaram prontos e, por muito tempo, resistiram a fúria das enchentes riódicas do rio mineiro.
Tempos depois, quando prefeito o engenheiro Horácio Farias, segundo me informaram, o espigão , foi destruído, ou para usar o termo atual, foi desativado, e as águas voltaram, de novo, contra a cidade. Primeiro fazendo uma espécie de bolsão, ilhando a igrejá que, por verdadeiro milagre, vinha resistindo heroicamente, às intempéries das cheias. Resistêncía que está findando, para a tristesa dos milhares de devotos da Excelsa Virgem do Carmo.
A matriz de Nossa Senhora do Carmo foi construída em 1776, por iniciativa, dos frei Paulino e frei Caetano. Posteriormente foi demolida e, no mesmo local, edificada a atual em 1895/96, em planta feita pelo arquiteto Etori Guerrieri, de tradicional família residente na cidade, Seus construtores foram Antônio Alexandrino Siqueira e Antônio Geraldo Cerqueira, respectivamente pedreiro e carpinteiro. A dificuldade de se obter pedras obrigou seus idealizadores a usarem tijolos, nas largas paredes da bem construída igreja em cuja nave, surpreendentemente, nunca entrou uma gota de água por maior que fosse a enchente e apesar de estar a uns cinco metros do leito do rio.
Conheci o Mestre pedreiro Antônio Alexandrino Siqueira, conhecido por todos como Antônio de Astério. Econômico, conseguiu reunir uma fortuna, desbaratada pelos seus herdeiros, em demandas jurídicas promovidas pelos seus inúmeros filhos, muitos dos quais :adulterinos
Não gostava de “gastar atoa”. Rico com uma das melhores lojas da cidade, Antônio, de Astério continuava a trabalhar, assentando tijolos, subindo em andaimes. Católico, era juiz vitalício das festas do Carmo. Com seu compadre Teófilo Barros.— pai do saudoso jornalista e escritor Florêncio Santos — todos os anos, explorava, nas festividades do Natal, um carrossel de cavalinhos na Praça da Lyra Popular, da qual era diretor. Também fundou e era diretor do Moutepio dos Artistas e Operários de Belmonte.
Tendo Jacob Schneider, participante da mais importante firma compradora de cacau na região, viajado em férias para a Suíssa, sua terra natal, certo dia, Carlos Monteiro, pergunta a Antônio de Astério quando ele ia fazer o mesmo, ou seja, gozar umas férias. E o velho pedreiro respondeu:
— É «seu» Carlos, quando eu puder deixar a colher, vou visitar a minha Canavieiras.
Efetivamente já doente, prestes a morrer, Antônio de Astério, após 60 anos voltou a sua cidade, Caravelas, no sul da Bahía, onde faleceu.
Só deixou a colher de pedreiro, para morrer.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 08/02/1979
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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