RiO — Acabo de receber de velho amigo e conterrâneo, radicado em Belo Horizonte, onde desfruta de uma aposentadoria, carta que vou aproveitá-la transcrevendo nesta coluna.
Trata-se de uma correspondência do escrivão de coletoria Dario dos Santos que, além de colega de estante, é escritor, tendo dois livros editados "O Carabarida" e "Acrósticos em Profusão", dedicados aos seus amigos, que não são poucos. Tomei o '"escrito” como complementação da crônica ”Martinho o Saxofonista”, pois vem relembrando fatos ligados a mesma, com detalhes interessantes.
Mas... vamos a carta escrita no dia 14 último;
”Martinho o Saxofonista”. Dvo dizer que foi uma “coisa velha” que você escreveu e que me trouxe um sabor, realmente, acentuado de saudade!
Acho eu que, embora a vida hodierna nos ofereça, talvez, talvez, melhores condições no que diz respeito ao próprio "viver', era àquele tempo, uma "gostusura" ímpar — por exemplo: lembrar o famoso "Jazz Morais" e, consequentemente os elementos que o compunham, como: Paulo Quirino, Olavo, Malaguti (lembrado por mim, como 2º violinista de P.Q.) Aldo e o exímio Jacaré que, ao vivo, foi o melhor baterista que já vi; para mim aquele conjunto foi quem me fez.despertar para melhorar uni arremedo de conjunto que eu tinha, desde que ele, o "Moraes” foi abrilhantar uma, festa no salão da nossa Lira Popular, lá pelos idos de 1923 ou 1929, um baile que começou às 21 horas, para acabar às 2 da manhã do dia seguinte, debaixo de um tumulto horrível, quando os falecidos: Arnaldo Bereco brigou com Clóvis Gomes, este, que recebeu uma coronhada de revólver na cabeça (acho que foi desfechada pelo preto João; guarda-costa de Bereco).
Quero dizer eu tivera ido para dançar, mas quando a turma atacou, deixou-me bouquiaberto e, ao mesmo tempo, já sentindo, antecipadamente, vergonha do meu "alejadissimo conjunto”, pensando como iria apresentá-lo depois que aqueles "cobras" fossem-se embora. — Sei que durante aquelas cinco horas se dançei 10 vezes, foi muito. Preferi ficar de um canto do salão somente a apreciar “os menino”! — No outro dia, acanhadamente, interpelei o Olavo sobre certos "macetes" do saxofone e ele me deu furtiva explicação. Ainda fui a "um concerto que deram ao Cine-Rio Branco. No dia imediato foram-se para Canavieiras. — Logo tornei o saxofone do "Virgílio-Pagão" e comecei a treinar e com oito dias estava dando as deliciosas respostas do famoso samba "Gavião Calçudo'', conforme eu vira o Olavo fazer. — Daí comecei a levantar mais o meu grupinho. Mais adiante volvi-me para arrumar os dedos no piano, e a coisa foi sempre melhorando. — Mas... o Martinho, não tive o prazer de conhecê-lo.
Sim: você lembrou os "Pidões” e eu me lembrei bastante do "Toninho'' (do gogó), que não saía de sua casa, na Fonte da Cruz. Ele gostava de cantar o samba ''Saudade quanta Saudade".
Oh! Que tempo bom!...
Minha observação: o.artigo-crônica está "bonzão". Repare bem o último parágrafo.
O Bereco, citado na carta, terminou seus dias, assassinado aqui perto na cidade de Caxias, pondo fim numa luta entre policiais e a turma de Tenório Cavalcante, o homem da Lourdinha, nos idos de 1950.
O Dario era tratado na época, de ''mestre Dário" e o seu conjunto musical, por sinal muito bom, era o Jazz Tupan, muito solicitado em Belmonte e cidades circunvizinhas.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 20/09/1978
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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