RIO — Tem razão o senador mineiro pelo MDB, Tancredo de Almeida Neves, quando adverte o governo sobre a situação financeira do País. principalmente em face nas dificuldades por que passa a maioria absoluta dos brasileiros, afogada com as altas constantes e vertiginosas dos preços das utilidades essenciais para a sua sobrevivência. A estatística demonstra que apenas 5 por cento da população é detentora de 52 por cento da renda nacional e 8 por cento dos brasileiros tem posse de 70 por cento das terras agricultiváveis de Brasil.
Diante de tal situação, o senador, homem equilibradíssimo, faz previsões sombrias e solicita medidas drásticas contra a exploração do povo, que como sempre, fazem ouvidos que como sempre, fazem ouvidos de mercador e prosseguem sugando o minguado salário dos trabalhadores.
Os aumentos dos salários, que era função dos aumentos já realizado, motivam novas remarcações. nos supemercado, remarcacões estas que agora são feitas eletrônicamcnte, ou melhor através de uma pequena máquina acionada durante o dia por um funcionário que, na sua missão, não tem tempo nem de retirar a marcação anterior, muitas vezes feitas horas antes.
Os órgãos fiscalizadores desapareceram, quase por completo, da circulação e, quando aparecem são abordados pelos compradres, não tomam providência alguma, deixando o povo entregue a sua própria sorte.
às "Cestas do Povo", os "Caminhões da Cobal" e outras instituições aparecidas ultimamente, nada resolvem pois o tempo perdido nas filas não compensa em face da mínima diferença de preços da mesma mercadoria expostas nos supermercados, além da falta de algumas mercadorias essenciais ao sustento da população mais carente.
A par da advertência do senador Tancredo Neves, de que o "povo tentará fazer, pela violência, profundas reformas sociais e econômicas, aqui nesta "mui heróica Cidade de São Sebastião", tenho assistido a várias demonstrações da força coletiva e a sua capacidade de violenta reação. Por exemplo: A invasão do Maracanã, no dia da sua inauguração. A multidão que afluiu ao Estádio, impaciente ante a morosidade na venda dos ingressos, começou a protestar e,a certa altura, como um rolo compressor, derrubou parte da murada que cercava a praça de esportes, invadindo todas as dependências, sem que houvesse força que impedisse o "assalto".
As reações aos constantes e injustificáveis atrasos dos trens da Central, muitas vezes se transformando de depedrações, também demonstram o quanto pode a força humana. Certa vez, devido a um prolongado atraso, quase todas as estações foram depredadas pelos usuários. A ação foi feita após constantes descarrilhamentos, não faltando quem pusesse a culpa nos "agitadores comunistas".
Mas com algumas providências tomadas pela Rede Ferroviária, inclusive instalando alto-falantes nas estações para comunicar as ocorrências em cima da hora, tem diminuído um pouco as ações depredadoras.
Pcrém a maior demonstração de violência popular, foi a verificada nas barcas Rio-Niteroi quando a família Carreteiro era concessionária. Saturados pelos constantes e inexplicáveis atrasos e pelos maus atendimentos, os usuários, cerio dia, ''perderam a paciência" e, como perderam.
Estava a Estação de Niterói super-lotada e, naquele dia, o tradicional atraso parecia mais demorado que os outros dias. Os operários uns com o repouso remunerado já perdido e outros na eminência de perdê-lo. De repente a revolta. As instalações quase todas destruídas e a multidão resolveu ir de encontro aos concessionários, dirigindo-sc a residência do chefe não o encontrando. A casa foi invadida pela massa humana e completamente destruída com todos os móveis e utensílios jogados na rua. Houve um principio de incêndio debelado pelos amotinados.
Um contigente dos Fuzileiros Navais foi impotente para dominar a situação só normalizada depois da casa ficar quase arrazada.
Como o senador mineiro pensa, um economista que declarou:
— Não sei para onde iremos quando esse povo juntar a fome à vontade de comer.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 25/10/1979
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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