quinta-feira, 11 de junho de 2009

De macumba a Centro Espírita.

RIO.— Ainda me lembro. Naquela noite, depois de uma .passagem na ''zona", a turma da qual participavam Osvaldo Mota, Carlos Rogaciano, Tercílio França e outros, resolveu assisíir a uma macumba, lá pelos lados do Iguape, onde haveria uma espécie de iniciação de umas candidatas a "Mãe de Santo". Teria um verdadeiro. banquete com caruru, vatapá, galinha de Xim-xím e outras íguarias, motivo princínal da nossa visita ao local tão distante e despovoado.



Chegamos um pouco antes do ritual marcado para meia-noite e, meio de muita gente e animação, estavam os animais que seriam sacrificados, tais como bodes, cabritos, galinhas, etc.

Faltavam poucos minutos para "fazer as cabeças. Os algozes, empunhando suas facas, se preparavam para a matança, quando, sob o comando do Tenente Izaias, chega a caravana policial e, numa espécie de “abafa" deixa os participantes sem ação para fugirem. Presos os principais responsáveis e feita uma 'triagem" para separar "privilegiados" foi organizada uma "canoa" puxada pelo "pai de santo7', transportando os apetrechos da macumba para a delegacia, no centro da cidade, numa marcha a pé.



Assim era tratado, naquele tempo, o candomblé, muito diferente dos dias de hoje, livres de perseguições policiais e proliferando assustadoramente em todos os recantos.



Mas, ao contrario do que acontecia aos macumbeiros, os centros espíritas, principalmente os doutrinários, tinham amparo das autoridades, organizados e registados que eram.



Não sei porque não era chegado ao espiritismo, mesmo sabendo do seu cunho científico. Muitas vezes recebia convites para participar de reuniões espíritas, mas sempre arranjava meios e desculpas para não comparecer. Uma das pessoas que mais insistia era o velho amigo e farmacêutico Martiniano de Almeida presídentede um dos mais antigos centros da cidade, localizado na Fonte da Cruz. A insistência do convite acabou me convencendo e, certo dia, numa festa de aniversário, fui assistir, a solenidade.



A primeira parte, social, presidida pelo saudoso Joaquim Sales, decorreu rotineiramente. Depois veio a parte espiritual quando notei uma transformação, a começar pelo ambiente. Os semblantes da maioria já não eram os mesmos da mesma forma que o ritual. Aconpanhava tudo com interesse e até certa desconfiança.



Mas um fato me deixou impressiona-do. Acerta altura, Juvenal, conhecido tamanqueiro, levanta-se e pronuncia vibrante discurso doutrinário. Não conhecesse o Juvenal, operário semi-analfabeto, aceitaria, como natural àquele pronunciamento, porém. fiquei certo de que não era o humilde. tamanqueiro que estava ali. Era alguém de rara inte-ügência.



Quem estaria se servindo do Juvenal para transmitir tão expressiva mensagem?


Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 06/05/1978

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