quinta-feira, 11 de junho de 2009

Cosme e Damião no Rio à moda bahiana.

RIO — Foi uma noite de gratas recordações àquela vivida no bairro do Catumbi, na residência de Margarida, esposa do grande goleiro do passado, Aires defensor da Seleção Belmontense. É que a Odete Ataíde, resolveu que a sua tradicional festa de Cosme e Damião, fosse ali realizada.

Todos os anos, Odete, hoje a natural chefe do "Clan" Lafaiete Ataíde, tradicional família belmontense, aqui radicada, comemora Cosme e Damião reunindo seus conterrâneos e amigos, a quem oferece saborosos pratos típicos da culinária baiana.

Este ano, com a transferência da festa, do cosmopolista bairro de Copabana, para um dos mais antigos bairros do Rio de Janeiro, a impressão era de que o número de "devotos” aumentou. E não era para se estranhar. Em Copacabana, as dependências deixavam os convidados sem o conforto desejado pela anfitriã, enquando que na casa da mana Margarida, havia um terreno bastante amplo onde nós, os convidados, podíamos nos espalhar.

Foi uma festa que me fez lembrar as reuniões comemorativas pela passagem do 27 de Setembro em todos os recantos da Capital do Cacau, inclusive na casa do Pai Pedro — hoje atração turística onde naquele tempo, os cambonos em absoluto, não eram tratados como hoje. As autoridades perseguiam os terreiros, muitas vezes os seus componentes, desde o chefe, eram levados, em "canoas para a cadeia.

No meio da euforia em Catumbbi, veio a lembrança as animadíssimas comemorações promovidas por Aflitina, na subida do Alto de S. Sebastião, nas imediações da belíssima Catedral, construída graças a perseverança do D. Eduardo Herberold, e uma das visitas obrigatórias do turista. O movimento começava cedo, mas oficialmente só era "dada a partida" depois da chegada do Dr. Lopes, que vinha acompanhado, invariavelmente do Cel. Álvaro Vieira, Eles presidiam a primeira mesa. E que mesa! Os mais variados pratos, temperados com azeite de dendê, estavam sobre a alvíssima toalha estendida no móvel, aguçando o apetite dos presentes, que "mandavam brasa" de verdade. Daí em diante estava “inaugurada a inauguração” da festa que se estendia por toda a noite, com sambas e baile.

Mas volto a falar do Rio onde os festejos em louvor a Cosme e Damião se resumem, geralmente, na distribuição de doces, balas e moedas de pequenos valores e, raramente, conforme a situação financeira dos "devotos", são oferedidas roupas às crianças pobres. Nos Centros Espíritas também programam boas festas em louvor dos popularíssimos santos, inclusive realizando excursões em locais onde existem cachoeiras.

A festa da Odete, reafirmo, dava a impressão de ser das mais concorridas, nestes últimos anos. Belmontenses natos e honorários estavam presentes e a animação superou a friagem da noite. Etelvino Flores, cuja esposa, também devota dos "dois-dois", festejando à nossa moda, era um dos convidados. Edson Moura e Aloísio Ludgero, com as respectivas famílias e José Lemos através da irmã Lourinha, também se fizeram presentes. Como não podia deixar de ser, a conversa principal era o descaso dos governos estadual e federal no grave problema da enchente do Rio Jequitionha que ameaça assustadoramente a cidade sulina, prestes a desaparecer.

Os assuntos eram regados com as mais variadas bebidas para suavizar os apetitosos caruru, vatapá, xim-xim de galinha, acassás, pamonhas e, sobretudo, a saborossima fritada de camarão, avidamente disputada pelos presentes que, conforme tradição, se serviam auxiliados pelos Ataídes, Hugo, Norma, Margarida e Aires, enquanto Haroldo, bancava o supervisor.

Este ano a festa não contou com a presença do Dr. Ito Ataíde, radicado em São Paulo, nem Lafaetinho. É; bom lembrar que Ito foi um dos componentes do F. C. Bahia, quando era cognominado de "Esquadrão de Aço", nos idos de 1930.

Foi um São Cosme inesquecível que espero repetir em 1980.


Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 20/11/1979

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