quarta-feira, 17 de junho de 2009

Octávio Moura ─ Um jornalista nato.

RIO — Primeiro foi Carlos Monteiro, anos depois Eusínio Lavigne e agora Octavio Moura.

Assim, com a morte do seu último remanescente, findou-se a trinca de ouro de redatores que. por dez anos-constituia o corpo redacional. Do cinquentenário "Diário da Tarde"', cujos artigos, pelo seu estilo, modificou por completo o tom agressivo adotado pela imprensa, na época.

Octavio Moura ingressou no Diario, em janeiro de 1928, vindo de Salvador, por indicação de amigos e colegas do jornalista Carlos Monteiro, diretor do jornal, ainda hoje instalado no mesmo prédio da Rua Marquês de Paranaguá, cujo primeiro número circulou no dia 10 de fevereiro daquele ano. Trabalhou ininterruptamente por cerca de 46 anos após o que foi afastado por motivo de saúde, a mesma que o vitimou, passando a direção, que vinha ocupando há mais de 30 anos, para o sr. Francisco da Silveira Dórea, proprietário da empresa e um dos seus fundadores juntamente com Carlos Monteiro, Eusínio Lavigne e Alcino Dórea.

Estou vendo Octavio, com. os seus 18 anos de idade, cheio de vida, chegando à frente de quatro gráficos, que tiveram que ser "importados", surgindo ao lado do prédio em frente a redação, onde funcionavam, no térreo o escritório da firma Atahyde & Barreto e no segundo andar, a agência do Lloyde Brasileiro. Desembaraçado, voluntarioso, bem falante, dando a certeza de que se adaptaria a linha de independência traçada pela direção do novo jornal. De fato as previsões foram plenamente confirmadas.

Os gráficos "importados” de Salvador e como o jornalista vindos por um navio da "Bahiana”, eram: Albérico, Teixeira, Rocha e Aristotelino. Os três primeiros compositores e o último impressor.

Octavio Moura assumiu a direção do "'Diário" em 1938, quando Carlos Monteiro se transferiu definitivamente para Salvador. Para o jornal esta mudança de direção nada alterou, pois com mais experiência o novo diretor comandou a folha com brilho invulgar por muitos anos, até quando surgiu indícios da doença e com ela começou a desaparecer àquela vivacidade e ánimo, tão apreciados pelos ilheenses.

Além da doença, creio, ou melhor tenho certeza de que outros problemas afligiam o velho companheiro das primeiras horas do "Diário". Nas minhas periódicas visitas a Ilhéus, vinha notando o seu declínio que, segundo informações de amigos que o visitaram em Salvador, atingiu até a memória.

Não teve, infelizmente, a capacidade de, na ocasião certa, "dar a volta .por cima.

Estou vendo Octavio, na praia do Sul, no Pontal, montar numa motocicleta sem saber manejá-la e impetuosamente, se atirar ao chão deixando a máquina se deslizar na areia.

Me lembro ainda, numa excurção de Guarani F. C. a Itapira, na chegagada do trem, ao saudar os locais, iniciando o discurso, com as seguites palavras: "Povo de Itapira, viemos aqui para vencer" frase que mal terminada, foi recebida com um aparte: "Se puder..."

E ele aproveitando a deixa, responde:

— "Sim, viemos vencer, não na disputa da partida mas, vencer os corações do povo desta terra! ..."

Nestes dois fatos estão a impetuosidade e a inteligência, daquele garoto que vi chegar a Ilhéus numa manhã de janeiro de 1928 e para quem, do outro lado da vida, onde está, desejo muita paz.


Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 13/09/1978

Nenhum comentário: