quarta-feira, 17 de junho de 2009

Paulo Gomes Verdadeira Parada

RIO — A titulo de colaboração tenho recebido de amigos e conterrâneos, correspondência referente a esta Coluna, contendo reclamações, elogios retificações, lembranças e sugestões. Retribuindo, os mais sinceros agradecimentos .

De velho contemporâneo, um apelo no sentido de que todas as vezes que citar Belmonte, não esquecer de apor a sigla da velha e tradicionalíssima Bahia. Penso que a idéia é evitar que algum leitor incauto, não confunda nossa cidade, banhada pelo outrora caudaloso Jequitionha, com as cidades do mesmo nome, existentes" em Pernambuço, Espanha (Província de Oviedo), ou em Portugal (Distrito de Castelo Branco). Uma espécie assim de separação do «joio do trigo». Justíssima a recomendação.

De outro atento leitor, lembrando que esqueci de mencionar nas «Reminiscências de Belmonte» as professoras Estefânia Biscardi e Costinha, que lecionavam respectivamente, na rua do Camba, esquina do beco São Pedro e Ponta de Areia. Também me foi lembrado a leiga Maria Helena, residente na hoje Avenida Sosígenes Costa, perto da Prefeitura. Um outro ratificando que o Sabiá do Coutinho, que falava, era um Japu. Domingão, o filosofo, Cardoso, o inveterado «pau d'água», Maria Xibinga e tantos outros tipos populares, constaram da correspondência que me lembrou de um médico forasteiro cuja rápida estada na cidade lhe proporcionou uma fortuna, assinando o óbito do velho Eustáquio da Praça São João, tradicional avarento da cidade.

Paulatinamente pretendo transportar para «Coisas Velhas e Novas», algumas das oportunas lembranças.

Hoje, por exemplo, aproveitando a «deixa», vou escrever sobre uma personagem, membro de tradicional família belmontense que, nos idos de 1910 até 1920 tornou-se popularíssimo, principalmente, por urna particularidade: Gostava de um «papo» firme para o qual tinha, assunto «pra nunca acabar». Voz macia e arrastada, seus «casos» eram quilométricos, devido aos seus «mínimos detalhes» que enfadavam os ouvintes, não deixando a estes qualquer oportunidade de intervir o até dificultando uma retirada do ouvinte que, depois, procurava evitar novo encontro.

Tratava-se do fazendeiro Paulo Gomes de Oliveira, primo irmão do senador estadual, da Bahia, Dr. Wenceslau Gomes de Oliveira, prestigioso político da República Velha, que nos primeiros momentos da vitória da Revolução de 1930, chegou a governar o Estado, por alguns momentos.

Seus conhecidos o evitavam, porém quando surpreendidos, não tinham jeito de escapar àquela conversa maçante e interminável que, por, questão de ética, eram obrigados a ouvi-la, mesmo contrariados.

Certa vez, Paulo Gomes solicitou de um conhecido que lhe emprestasse o cavalo em que estava montado. Atendido, o velho fazendeiro saiu trotando vagarosamente e, na primeira esquina, por azar do dono do animal, encontrou outro cavaleiro. A dupla foi conversando e, como o parceiro se dirigia à sua fasenda, Paulo Gomes o acompanhou e só apareceu no outro dia, pois resolveu ficar na fazenda do inesperado ouvinte.

Octavio Melo, escrivão da Coletoria Federal da Cidade, conhecia o Paulo Gomes. Um dia resolveu enfrentá-lo. Se preparou psicologicamente e, numa manhã promoveu o encontro, na porta da Coletoria. Preparado que estava, Octávio ia «puxando conversa». Ao meio-dia o «papo» estava animado. Ninguém notava o passar das horas. Já ao escurecer o escrivão não «guentou» a parada e ia batendo em retirada, quando Paulo Gomes, como que protestando, exclama:

— Por favor não se retire pois tenho um caso interessante para te contar e creio que você ia gostar...

Creio que foi a última vez que o escrivão pôs em jogo a sua capacidade de enfrentar a adversidade.


Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 21/12/1978

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