sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um “record” difícil de ser superado

RIO — “Eis aqui uma figura simpática e insinuante, além de boníssima. É uma das pessoas mais prestigiosas desta região..."

A figura simpática que o Teixeira saudava, naquele dia de festa em Pirangí, não passava de um personagem parecido com o lendário Quasimodo, do sensacional filme "Corcunda de Notre Dame". Mas o objetivo da efusiva e despropositada saudação foi alcançado. A despesa que fizemos – eu, Lelinho e o orador, foi paga, acrescida de mais uma "rodada".

Esta cena se passou na Pïrangi, por ocasião de um passeio; ferroviário, cuja principal atração era uma partida de futebol.

Era assim o saudoso companheiro e amigo Teixeira, o António Benvindo Teixeira, um dos fundadores do-"Diário da Tarde", que, há cinco anos, falecia aí na Capital do Cacau, onde viveu cerca.de 45 anos.

Estava ."eu em Salvador, justamente para assistir a tradicional Festa do Bonfim, quando, naquele Janeiro de 1973 ,o companheiro de longas datas, Juvenal Silva, num encontro ocasional, me deu a notícia do recente falecimento do colega, cujos laços de amizade datavam de 1928, justamente em Janeiro, na sua chegada de Salvador.

Meses antes, em Ilhéus, havia me encontrado com o colega e amigo notei a sua decadência física, minada, conforme suas palavras, por motivos familiares, mas, na verdade a situação chegara naquele ponto, pela teimosia do amigo em esquecer as agruras, ingerindo pequenas mas continuadas doses de "traçados". Sabia que os conselhos de nada iam valer, mesmo assim, confiado na amizade, os dei, naquele encontro lembrado.

Teixeira Já não era aquele dos idos de 20. 30 e 40 que conheci, cheio de entusiasmo, sempre pronto para um discurso ou um recitativo, Aquele que "nas festividades encontrava jeito de por falação. Era diferente do Teixeira"; que, nas chegadas do interior, de onde sempre trazia algum" para a folha do sábado, fazia "suspense", surgindo, pela Cel. Paiva ou Eustáquio Bastos, quando a turma não tirava os olhos da Paranaguá, finalmente naquele encontro me deixou a certeza que seus dias estavam chegando ao fim.

Mesmo assim a notícia do seu desaparecimento, transmitida pelo funcionário da Coletona Federal em Ilhéus, Juvenal Silva, ali na Praça da Sé, em Salvador, me deixou desolado. era mais um velho companheiro que deixava este mundo, indo para onde já estavam Lelinho, Roques Sousa Pinto, Aristotelino e, para onde iriam Francisco Dórea, Eusinio Lavigne, Edmundo Araújo e Moura, todos da primeira arrancada do tradicional jornal da Rua Paranaguá.

Mas hoje, esta coluna presta uma homenagem póstuma ao Teixeira pela passagem do quinto aniversário do seu falecimento.

O velho amigo, certa vez realizou. uma façanha, creio, difícil, se não impossível de ser igualada. O fato ocorreu em Banco do Pedro, por ocasião do "aniversário do seu chefe, Ciriaco Marinho de Sá, um verdadeiro "gentleman" sempre disposto a dispensar um tratamento distinto ao seu próximo e. por este motivo, bastante relacionado em toda a região..

Festejava o destacado chefe político seu cinquentenário e o acontecimento era motivo de manifestações das mais variadas classes da área servida pela State.

Como não podia deixar de ser. lá estava nosso amigo Teixeira, que fez a primeira saudação ao aniversariante, logo respondida. Em seguida, antes dü almoço, foram chegando as embaixadas para felicitar o chefe de Banco do Pedro.

A certa altura, Teixeira foi escolhido para agradecer as homenagens, mas também era convidado para representar algumas dslegaçôes, animado com as sucessivas doses, o nosso amigo realizou uma façanha inédita. Saudava o homenageado ao mesmo tempo em que agradecia a manifestação dos convidados.

Naquele dia o saudoso companhciro fez nada menos do que 16 discursos. Um. verdadeiro "recorde"' e um caso inédito em festas natalícias.



Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 26/01/1979

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