sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O curió e os discursos de Ruy

RIO — Sem dúvida, um dos chefes de estado mais criticado pela imprensa é o irrequieto Idi-Amin, de Uganda.. Creio até, num 'teste' de comparação, ele ultrapassou Adopho Hitler. Os termos mais pejorativos são aplicados ao governante africano que já foi, inclusive'taxado de antropófago.

Francamente temos que dar um desconto nestas assertivas pois, ao que .sabemos, o homem foi educado nas mais importantes universidade de Londres, freqüentando os mais destacados meios universitários, obrigado, portanto a, pelo menos, se portar como cavalheiro, dando exemplo aos seus milhares de súditos, que o fizeram seu líder, com os quais se mistura em dias festivos.

Agora mesmo, leio uma notícia que Idi Amin está bastante preocupado com a existência de um cágado recolhido no Jardim Zoológico da sua cidade. E que o animal deu para falar e ,segundo a imprensa. isto o apavora. Supersticioso, que é, pensa o chefe-africano, tratar-se de um prenuncio "de coisas desagradáveis prestes a acontecer ao seu povo. Não acredito que a notícia seja verdadeira.

Mas, este negócio de bicho falar não é novidade. Desde o principio do mundo casos idênticos são registrados. Certo ou errado, muita gente acredita á. em tais fenômenos e até ouve e interpreta a fala dos irracionais. Em contra-partida, muita gente não acredita. Porém, no que todos concordam ó que só os papagaios são capazes de falar.

A notícia do cágado falante de Uganda, me fez lembrar de dois. casos ocorridos ,há muito tempo, que confirmam a crendice popular e a incredulidade de outra parte ,em tais cases. Certa vez, nos idos de 30, surgiu a notícia de que nas imediações de Banco da Vitória, todas as noites, esvoaçava, uma gigantesca ave que mandava os moradores da região trabalharem. (Tratava-se de um JAPU) A insistência da notícia, foi o bastante para muita gente, residente em Ilhéus, organizar caravanas para verificar o fenômeno. A maioria se dirigia ao local a pé. Muita gente voltava confirmando a notícia, porém, outros declaravam nada ter assistido nem ouvido. O desfile se prolongou por algum tempo. Da mesma forma que surgiu, a ave desapareceu e com ela os romeiros de Banco da Vitória. O importante foi que na época não houve aumento de produção, fazendo crer que ninguém seguiu o conselho da misteriosa ave.

Em Belmonte, um senhor chamado Coutinho, pequeno negociante, estabelecido junto à cadeia pública, na Rua Sete, possuía um Sabiá-Laranjeira que falava. Repetia constantemente o nome da companheira do negociante. Ela. se chamava "Deja”. Fato verdadeiro e que até hoje é lembrado pela «velha-guarda» da cidade.

Certa vez, o saudoso jornalista Carlos Monteiro, numa de suas viagens a Salvador, a bordo de um navio da "Bahiana», participou de um grupe de viajantes que contava coisas excêntricas c casos raros. A certa altura o jornalista resolveu contar o caso do Sabiá-Laranjeira de Coutinho, com detalhes para confirmar a veracidade do fenômeno, ratificado por um belmontense presente. Mesmo assim a maioria demonstrou dúvida na existência da ave, através da frieza sentida pelo jornalista .

Mas, como sempre acontece, um dos viajantes quebrando a frieza de ambiente declarou o indefectível "isto não é nada” e atacou:

— Na minha cidade conheci um Curió que sabia de cor e recitava todos os discursos de Ruy Barbosa...

Nunca mais Carlos Monteiro contou o caso do Sabiá do Coutinho..

Jornal da Manhã Ilhéus/BA 14/09/1978

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