RIO — No início do ano passado, em "A Fortuna Enterrada de Adão, relatei um fato ocorrido em Belmonte, nos idos dos anos 20 quando, acreditando na imaginação sempre fértil de quase a totalidade dos moradores da cidade, pequeno grupo do qual fiz parte, em noite escura, escavou as imediações de frondoso e velho cajueiro, disposta a retirar um "baú cheio de moedas antigas de prata e ouo — verdadeira fortuna — de um avaro dono de açougue e possuidor de amplo sítio campos de árvores frutíferas, vendidas a bom preço, protegidas por ferozes cachorros."
Os lucros provenientes do açougue e vendas dos cajus, mangas, abacaxis e outras frutas, não eram, de fato, os principais motivos que levava a população a acreditar que Adão — este o nome do personagem — possuía dinheiro enterrado, o que "pesava" mesmo era a parcimônia com os gastos para a sua manutenção e mesmo apresentação.
Porém a realidade — a triste realidade — pelo menos para os "exumadores" foi bem outra. O laborioso trabalho, iniciado a meia noite, cujo resultado positivo foi a derrubada, pela raiz de quase centenária árvore, uma vez que nada foi achado, frustrando os pianos dos "futuros novos ricos". O pior e que toda a cidade acreditou ter sido o "tesoiro" desenterrado e, por incrível que pareça — para a vergonha dos escavadores — surgiu até o nome de um dos felizardos.
Volto hoje aos 'tesouros enterrados". Como da vez passada o fato ocorreu na minha Belmonte no início dos anos 20. Na época bastante comentado e hoje confirmado por alguns veteranos da cidade.
Carlos Monteiro havia voltado de uma viagem que realizou à outrora Capital Federal, tomando a direção da Typografia-Democrática que estava gerida peio seu irmão professor Afonso Marques Monteiro. A gráfica editava o semanário "O Lábaro”, posteriormente substituído pelo primeiro jornal diário da cidade o "Pequeno Diário". Carlos Monteiro criou, na sua folha, uma coluna para arrecadar donativos em favor das pessoas hoje chamadas de carentes, nos moldes adotados pelos jornais cariocas. O dinheiro arrecadado dos "abonados" durante a semana, era distribuído, nos sábados.
Residindo na Ponta de Areia era eu encarregado da distribuição dos donativos a uns três pobres que residiam na área compreendida entre a Praça S. João e a Rua do Cruzeiro, nos confins da Tenente Portela, a mais extensa artéria de Belmonte. Os "meus" mendigos agradeciam prazerosamente a "ajuda'', e "desmanchando e rapapés", louvando mais a minha pessoa do que a dos contribuintes. Um deles entretanto, não era de muita conversa. Tratava-se do velho Sapucaia, um preto magricela. Morava perto da Caixa D'água, numa palhoça. Aos sábados ficava me esperando na "venda" do Zequinha, um jovem sempre sorridente possuidor de boa freguesia., Me lembro que a etapa que cabia a cada um dos beneficiários" era de dois mil reis, um bom dinheiro na época, muito antes ca "invenção" do Salário-Mínimo. Para se ter a idéia do valor da importância, basta lembrar que, naquele tempo, recebia quinhentos réis por dia. Isto depois de ter "'penado" um de aprendizado. — Santo aprendizado.
Certo dia. a rotineira vida da Ponta de Areia, amanheceu em polvorosa! em face da notícia de que a casa dd meu 'mendigo" havia sido "invadida na caiada da noite e de lá "desencavada" uma lata cheia de dinheiro. Corri no Zequinha que já sabia o nome da. "invasora" mais não quiz "se abrir" pois se tratava de uma boa freguesa e gente bastante conhecida na Ponta de Areia.
Confiado no meu "prestígio' fui s, Sapucaia pra saber o que de fato acon' tecera. E soro meias palavras o preto velho foi dizendo:
,— Ainda encontrei D. Santinha saindo daqui de casa levando a lata cheia do meu dinheiro, Não estou zangado, pois ela sempre me ajudou e merecia levar os meus "vinténs" que fazia tenção de entregar quando morresse. Todas as noites, ao deitar, contava o dinheiro com o pensamento nela. Estava bem aqui neste cantinho., Tem outra lata em outro lugar.
Estou sentido é que dona Santinha não soube esperar que eu morresse. Se tivesse paciência seria melhor para ela.
Depois fiquei sabendo que dona Santinha, nossa conhecida, noites antes, havia sonhado com Sapucaia lhe entregando a sua -'fortuna", inclusive mostrando o local exato onde estava a “bolada” que ninguém nunca soubera quando montou o “encontrado”
Rubens E. Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 05/01/1981
domingo, 12 de outubro de 2008
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