quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A Praça José Joaquim Seabra

RIO — Urna das artérias mais bonitas de Ilhéus é, sem dúvida, a Praça José Joaquim Seabra, com todo o respeito a Avenida Soares Lopes. Em 1927 era o tradicional logradouro fartamente arborizado com bem tratados "ficus" posteriormente Substituídos por fiondosas árvores e palmeiras sem lhe tirar a beleza cujo ponto alto é. sem dúvida o Palácio da Prefeitura com seu; estilo arquitetônico igual a sede do governo federal, o chamado Palácio das Águias da rua do Catete, aqui no Rio.

O prédio teve sua construção iniciada no último ano do século passado, ou seja em 1.899, por iniciativa do então Intendente dr. Ernesto de Sá sendo inaugurado anos depois na gestão Domingos Adami. Em seu lugar anteriormente existia o Colégio dos Jesuitas. Anos depois de inaugurado o prédio foi interditado já que ameaçava ruir. Dr. Eustáquio Bastos que chefiava o executivo, providenciou a transferência da Preíeitura para o Grupo Escolar situado na Praça Castro Alves. Feita a reforma conservando as linhas arquitetônicas, em 1921, foi reinaugurado o Palácio e nele voltou a funcionar a prefeitura, sendo instalado o serviço jurídico local, além da Delegacia de Polícia, a Cadeía Pública. Também ali existia um Serviço de Profilaxia Federal. Anos depois a Cadeia era Delegacia deram lugar as oficinas do Diário Oficial enquanto o Serviço de Profilaxia eO transferido para a Avenida Canavíeiras. Os seiviços jurídicos passaram para o Fórum, na Cidade Nova.

Na Praça foi construída, na segunda década deste século a sede da Associação Comercial, tendo a sua frente o desaparecido- Cinema Vitória do velho Cortes, que no início da função "virava" o preço do ingresso "catando" tudo quo aparecia em sua frente. Ao lado da Associação se instalou a Pensão Miled — se não me falha a memória — vinda da Praça tío Vesúvio. Em fronte da Prefeitura estava instalado o médico farmacêutico Enock Carteado sarcasiicamente glozado quando de sua viajem a America do Morte. Ali também creio ter sido a primeira sede da Sul-Bahiano, sob a gerência de Joaquim Teixeira, um despachante que sonhava a descoberta do moto-contínuo. Já na esquina com Almirante Barroso estava localizado, no andar superior o consultório do médico dos Pobres, dr. Lopes. Vicente Marselli exibindo seus pendores canoros dirigia sua alfaiataria, no. mesmo "corredor” da mais antiga família da.artéria, a dos Daneus que ainda tem vivo o mais velhos dos seus dependentes, o rubro-negro doente dr. Raul Daneu.

Atrás do prédio existia uma casa onde estavam instalados vários açougues e era a sede da Euterpe I3.de Maio. Dois personagens conhecidissimos moravam no porão do prédio. Ambos professavam ideias comunistas. O quitandeiro Edson e o sapateiro Leôncio, este então mais exaltado, sempre" disposto a fazer comícios exaltando o proletariado. Outro esquerdista que residia nas imediações era o pofessor Nelson Sshaun. Não devemos esquecer que como tomando conta da praça, morava perto o chefe político dos meios; agrícolas e sociais de Ilhéus, um dos fundadores no Clube Sócia! e insentivador da construção de sua sede na Cidade Nova, nas imediações do antigo Matadouro.

Não posso dobar de assinalar, na principal praça da Capital do Cacau a presença de um parsonagem que atraía a atenção de todos. Com o seu passo cadenciado, percorrendo todos os recantos da artéria, não dando guarida aos poucos inseios que tentavam destruir os jardins, estava um domesticado urubu. O seu nome era "Garcia" admirado pelos visitantes da cidade que o tansformavam em verdadeira atracão turística, como seria chamado hoje.

Não podeia terminar esta crônica sem registrar o zelo incomum de um preposto da municipalidade: cuja ação e modos de agir se transformou, na opinião popular, no rnais odiado elemento da cidade, e que por ocasião da vitória da Revolução de 3 f0oi "caçado" por uma legião de entusiásticas adeptos da nova ordem. Estou falando do fiscal da Prefeitura Rodolfo. Ele ficava nas imediações da Praça como que farejando a cata dos infratores", reprendendo-os agressivamente, confiado na sua autoridade já que fisicamente não "guentava" um sopro. Era tão respeitado quanto odiado mas mantinha a sua autoridade amparado pelos "Pessoas", seus chefes.

Hoje, por todo o Brasil, sentimos falta.- de muitos Roldofos para combater os destruídores de obras púbíicas.

RUBENS Ë. SILVA Jornal da Manhã. Ilhéus. BA 11/12/Jan/1981

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