RIO — Rubens Correia, ou melhor Rubens da Associação, o veterano estatístico da Associação Comercial de Ilhéus, que deve estar se aposentando, pelo tempo que exerce, na tradicional entidade da Praça J.J. Seabra, de vez em quando, através de "Coisas e Fatos de Ilhéus", tece considerações acerca de macumba e candomblé, demonstrando ser um assíduo freqüentador da casa do Pai Pedro, lá no Alto do Basílio, além de conhecedor profundo da história dos "Terreiros" da região cacaueira.
O velho amigo das noitadas de Ilhéus, para minha surpresa, nos escritos confessa que desde os idos de 30 "está por dentro" das coisas de Oxossi e Ogum, acompanhando a saudosa "Mãe Percília", do Pontal, substituída por "Mãe Conceição", sendo agora um "fam" incondicional de "Pai Pedro” no seu terreiro no Basilio, onde naturalmente recebe os fluidos do tradicional "bruxo", considerado atração turística da cidade.
Naquele tempo o candomblé era considerado contravenção e sua prática era perseguida pela polícia, que não dava tréguas aos "cambonos", muitas vezes presos com os seus seguidores e seus apetrechos.
Hoje a coisa mudou. As macumbas estão em todos os lugares. Os "pegys", que funcionavam nos longínquos recantos, estão funcionando nos centos urbanos e, muitas vezes, como acontece aqui no Rio, não respeita a Lei do Silencio, amparados que estão por diplomas gerais.
O pior é que a profissão está sendo exercida, em muitos casos, por impostores que apenas visam a exploração dos incautos, pondo "para trás" àqueles que praticam Umbanda com fins puramente humanitários, não visando lucros.
Numa última crônica o Rubens da Associação se refere a "Festa de Cosme e Damião" e depois de fazer um histórico dos dois "mabaços", popularmente conhecidos e festejados, noticia a festa que o, também companheiro das festinhas de aniversários, Chico Caraneba, ia proporcionar aos seus amigos, quando o tradicional caruru e o apimentado vatapá, iam "rolar" durante à noite.
A notícia me fez recordar festas dos “dois dois” nas décadas de 20 e 30, nas casas de Pai Pedro, Jorgina, e especialmente, a promovida por Aflitina, esposa do "Flamengo doente" ' António da “State”, no início da Avenida 2 de Julho, perto da subida do Alto de São Sebastião.
Apesar da preferência dos anfitriãos .pelos 'amarelinhos", no dia 27 de setembro não havia discriminação.
Todos eram recebidíssimos. Desde as primeiras horas da tarde, começava a romaria e a distribuição de bebidas com certa reserva. Sim, a coisa começava calmamente até a chegada do Dr. Lopes e do chefe político tradicional Álvaro Vieira, além de uns outros destacados elementos da cidade. Eles davam uma espécie de sinal verde para as comemorações, uma vez que a primeira mesa dos "comes e bebes" só era servida quando eles chegavam, não adiantando a indocilidade da rapaziada, tão natural em ocasiões desta natureza.
Anos depois soube porque o privilégio, que era quase exclusivo do Dr. Lopes. Respondendo a uma indagação que fiz, Dona Aflitina, uma excepcional mãe de seis filhos, declarou:
— O compadre Lopes é a única pessoa que pode "batizar" a toalha dos "meninos", em primeiro lugar.
Efetivamente, nas casas onde festejavam Cosme e Damião, os participantes limpavam as mãos numa toalha que a dona da casa trazia pendurada no cós da saia.
Nunca soube o porquê dessa tradição, respeitada por todos participantes das festas espalhadas por toda a cidade.
Aqui no Rio as comemorações, de modo geral, se resume na distribuição de "balas" e doces para a. criançada. São raras as casas —naturalmente . de baianos — que oferecem caruru, acarajé e vatapá, dentre outras comidas cosidas com azeite de dendê.
Jornal da Manhã Ilhéus/BA 18/10/1978
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
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