Rubens E. Silva 24/02/1981
RIO — Quase todo belmontense conhece duas frases que, quando pronunciadas, há nuitos anos, refletiam a realidade da vida e a transformação da cidade sulina: "Belmonte é um Pais" e "Belmonte é a Terra do Já Teve".
"Belmonte é um País" foi dita na segunda década deste século por destacada figura dos meios jurídicos belmontense, pelo primeiro promotor público, quando a localidade foi elevada a categoria de Comarca, se desmembrando da jurisdição de Porto Seguro em 1898 causando verdadeiro desgosto aos canavieirenses que passaram a Termo quando esperava voltar a cabeça de Comarca, o que aconteceu anos depois para o desespero dos be!montenses.
Dr, Pericles Vieira de Melo — este o nome do Promotor — tinha suas razões ao anunciar sua sentença, ante urn grupo que todas as tardes ia jogar Gamão em frente da casa comercial de Pedro Serra, na Praça 2 de Julho, ponto de reunião da intelectualidade local. Na época a cidade possuía, nas devidas proporções, tudo de uma Metrópole, inclusive Academia de Letras formada de destacadas figuras da sociedade e da política do Estado representadas, na sua câmara alta pelo senador Wenceslau Gomes de Oliveira. Exïstiam varias publicações lideradas pelo "Lábaro", dos Monteiros e o "Imparcial" de José Joaquim de 'Magalhães. Inúmeras casas comerciais com destaque nas compradoras de cacau, em grande número. Duas boas filarmônicas, das quais uma ainda sobrevive, com extrema .dificuídade a "Lyra Popular". Um Tiro de Guerra — o 595 — dos mais destacados do Estado. Corridas de Cavalo. Corpo Cênico. Organizações carnavalescas. Escolas primárias de níveis elevadíssimos. Tudo em. aiividade permanenjte incentivado peias facções políticas e o espirito bairrista, explorado inteligentemente por seus lideres.
Mas a proporção em que o rio Jequitinhonha foi devorando a cidade a estrutura sócio-recreativa foi desaparecendo, agravando tal situação com o desaparecimento de destacadas figuras, por transferência de domícilio ou pelo "ponto fina!" da caminhada. Uma vasta área que margeava o rio foi levada de roldão. Ruas como o Boquete, Ponte, Quartéis, Deodoro, Cajueiro, Gameleiio, desapareceram acompanhando o cemitério velho localizado no ponto mais visado pelas águas, que invadiam as .''"barcaças" do sistemático Maia e de Olegario Matos.
Nessas alturas o Governo Federal resolveu tomar unia providência mandando a "expedição" Cândido Graffe construir um cais de amparo a cidade que impediu o desaparecimento da cidade, principalmente devido a construção de um espigão na altura do Freire, inexplicaveímente demolido depois de alguns anos.
Aí é que entra a segunda frase e o seu autor foi o saudoso português Benjamin Andrade, radicado em Belmonte e dono cie um estabelecimento comercial. Bemjamin participava das atividades literárias e esportivas locais e certa vez em frente a Coletoria Federal, numa discussão com Otávio Melo sobre a cidade, terminou o "papo" com o dito que ficaria gravado na história belmontense: "Belmonte é a Terra do já teve".
De fato tudo que foi relatado no inicio da crônica era coisa do passado. Ninguém sabia como tinham acabado os jornais, os corpos cênicos, a Academia de Leiras, o Tiro de Guerra 595, as corridas de cavalo, os Clubes Carnavalescos "Filhos do Sol" e "Cavalheiros da Minerva", nem tão pouco a sua remanescente “as Brasileiras". As retretas natalinas das bandas e os tumu'tuosos encontros que acatavam em pancadaria, o mesmo acontecendo nos jogos de futebol entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Finalmente Belmonte estava reduzido, em termos de recreação, ao Cinema com funções em dias alternados.
Até os tipos populares haviam desaparecido. Domingão, o filósofo que quando queria falar de um político local, trocava seu rome pelo um dos adversários que estava "de baixo". Cardoso um inveterado "pau d'a^ua" a chamar todos .de ladrões. Carlos Cego que andava por toda a cidade sem guia e tantos outros que faziam a história da cidade, como Cândido D'Agua o português que .revidava as anedotas sobre a inteligência do seu povo dizendo que burros eram nós que comprávamos a nossa água por ele vendida. ,
Tanto Dr. Pericles como Benjamin Andrade estavam certos nas suas sentenças.
domingo, 12 de outubro de 2008
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