A decadência de um conjunto padrão
RIO – Fui um dos primeiros locatários do conjunto Residencial do IAPI de Realengo, inaugurado em março de 1943, quando presidia :a autarquia dos industriários, o engenheiro Plínio Catanhede que, na época, por exceção, me proporcionou a oportunidade de adquirir uma das casas do conjunto.
A nova cidade tinha administração própria, com seus responsáveis residindo na localidade para atender os moradores, assistidos por um médico e um serviço assistencial digno de nota.
Ruas largas com áreas ajardinadas, bem tratadas por funcionários responsáveis, o complexo era mostrado aos visitantes como uma das obras mais importantes do governo Getúlio Vargas, espécie de trabalho pioneiro para servir de base para novos conjuntos. Havia uma equipe para a conservação das casas, já que era proibido aos moradores executarem qualquer alteração nos imóveis, função exclusiva do administrador que, por sinal, era rigoroso cumpridor das ordens determinadas pela alta direção do ex-IAPI. Goniglo, o nome do administrador que não transigia e até se excedia no cumprimento das ordens. Ás 1500 unidades, residenciais, na maioria casas baixas, eram visitadas religiosamente pelo médico Dr. Cláudio Mesquita, cuja franqueza era criticada acremente pelos moradores que não estavam acostumados com determinações higiênicas postas em prática pelo facultativo e, graças a sua firmeza, foi possível debelar um princípio de epidemia...
A supervisora do Conjunto era uma alta funcionária do Ministério do Trabalho, que era responsável pela assistência social aos moradores, mantendo um serviço eficiente de atendimento, com distribuição de remédios, alimentação e até vestuário, aos mais carentes. Também proporcionava festas sociais dedicadas aos filhos dos moradores, Zenith Miranda, seu nome.
Complementando o quadro existia um Conselho de Locatários, composto de 15 moradores, com contato direto com os setores administrativos da autarquia para levar as reivindicações da localidade. A escolha dos membros deste Conselho era por votação direta em eleições livres.
Apesar das deficiências devido a falta de comércio e a precariedade de meios de transportes, pois a condução era feita através de trens da Estrada de Ferro Central do Brasil, o Conjunto ia bem, pois os problemas surgidos eram solucionados pela administração.
Posteriormente o Conjunto foi ampliado com a construção de apartamentos durante o governo Gaspar Dutra, aproveitando vastas áreas até perto de Bangu. Mas em 1953 a localidade foi declinando com a modificação da Portaria que criou o setor imobiliário do instituto.
Primeiro foi desativado o eficiente atendimento médico dirigido pelo. Dr. Cláudio Mesquita, que sozinho prestava mais serviços à população que o recém criado Posto do SAMDU. depois desativado. A saída de Goniglo determinou o abandono da localidade que também perdeu seu serviço social de tanta utilidade. Posteriormente o Conselho de Locatários deixou de existir, em face da unificação dos institutos de previdência.
Ante a situação, grande número de locatários começou abusar, "avançando" nas áreas ajardinadas para complementar seus quintais. Alguns mais ousados se apoderaram de vastas áreas, construindo garagens nas ruas, fazendo proliferar oficinas de serralheiros e locais de consertos de automóveis, sem nenhuma intervenção da Coordenadoria do Patrimônio que entregou de "mão beijada" vasto acervo adquirido pelas contribuições de trabalhadores e, como castigo, determinando que as casas construídas em 1940, venham tendo crescente valorização sentida com os constantes aumentos das prestações em face da maldita correção monetária.
O Conjunto está decadente, porém se transformou numa fonte de renda para o Banco Nacional de Habitação que, no nosso caso, entrou com a "cara e a coragem",
Mas num mandado de segurança contra a cobrança da correção monetária nas nossas casas, um juiz achou justa a cobrança enquanto votava a eliminação para os imóveis do Instituto cons...(linha incompleta)
Rubens E Silva, Jornal da Manhã Ilhéus/BA 10/01/1980
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
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