sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ilhéus na primeira década do “Diário da Tarde”

Está completando seu quadragésimo sexto aniversário o DIÁRIO DA TARDE, o "paladino dos eternos ideais de liberdade e defensor intransigente das causas ilheenses e dos interesses e aspirações da região cacaueira".

Fui seu primeiro funcionário que, com. o jornalista Carlos Monteiro um dos fundadores, saí de Belmonte para trabalhar no jornal, cujo primeiro número circulou no dia 10 de fevereiro de 1928, numa sexta-feira, com enorme expectativa e desusado interesse da parte da população.

Seus dirigentes e empresários desde o inicio daquele ano, desenvolveram intensa atividade e uma assistência intelectual e financeira das mais positivas, com uma certeza absoluta do êxito da iniciativa.

Efetivamente o DIÁRIO DA TARDE, que surgiu numa época de ouro da região cacaueira, vem atravessando os tempos com uma irrepreensível linha de independência e apoiado por todos .os setores, objetivo esperado e alcançado pelos seus iniciadores Carlos Monteiro, Eusínio Lavigne, Alcino Dórea e Francisco da Silveira Dórea que comandou a empresa por mais de- 45 anos, o que constitui um verdadeiro “record” na imprensa nordestina.

Na primeira década da existência do DIÁRIO, o jornal participou intensamente da vida da cidade, tanto no setor social, político como no esportivo. No setor político liderou a Revolução de 30 na região sul da Bahia, obrigando as autoridades de então lhes impor uma censura, motivando que diversas de suas edições saíssem com colunas em branco. Mas vitorioso o movimento um dos seus principais elementos, o Dr. Eusínio Lavigne foi escolhido Prefeito da Cidade, se constituindo um dos maiores dirigentes administrativos que Ilhéus já possuiu, responsável pela ampliação e desenvolvimento urbano.

Naquela época Ilhéus tinha uma vida. noturna intensa, com quatro cassinos funcionando. Os bares das praças do Vesúvio -e Firmino Amaral com um movimento enorme e os seus 3 cinemas funcionando diariamente com desusada assistência, o setor urbano era também muito movimentado.

As festividades que sempre, como ainda hoje, contavam com a colaboração do jornal, decorriam em plena animação, principalmente as religiosas, tais como as de Nª. Sª. das Vitórias, São Jorge e São Sebastião, que reuniam católicos de todos os setores da cidade.

O movimento esportivo com. a participação do Vitória, Satélite, Flamengo e Santa Cruz, era a paixão dos torcedores o que motivou a necessidade da construção do Estádio "Mário Pessoa", onde os campeonatos eram realizados em renhidas partidas.

Durante o Carnaval, os Pidões e Fiapos, sucessores dos Batutas e Bacuraus, além das escolas de Samba de Melé e Almir, faziam com que a população se concentrasse na Luiz Viana, com uma animação fora do comum.

As festas do Clube Social e da União Protetora e a participação do “Jazz Moraes", eram animadíssimas.

Noites de Reis com Aprígia e Domiense exibindo seus ternos bem organizados e as testas Antoninas nas casas de Mãe Tereza, Dª Clara e Rita, de Zé Luiz e Antonina Santana, terminavam com animados bailes que iam até altas madrugadas.

Também o São Cosme de Aflitina e São Crispim de Alzira de Aquilino reuniam destacados elementos dos mais variados setores sociais de Ilhéus que também não esqueciam de uma visita a Pai Pedro ou mesmo a Jubiabá quando aparecia na cidade.

O mais importante é que o DIÁRIO DA TARDE sempre foi distinguido por todos, da gente humilde aos destacados nomes da sociedade e da política que hoje, decerto, prestarão as mais sinceras e justas homenagens ao jornal que, passando pelas mais variadas fases econômicas da região, jamais deixou de cumprir o papel de "paladino dos eternos ideais de liberdade" a que se propôs.

Guanabara, Fevereiro de 1974.
Ilhéus, BA 06/02/1974

RUBENS E, SILVA

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