RIO — Lá vem o trem da Centra. Chega na Estação intermediária praticamente lotado. Os passageiros que estão na plataforma não tomam conhecimento e ''forçam a barra", aumentando o número da usuários, parecendo ser impossível entrar mais gente. Pura ilusão, pois, na próxima Estação um trem avariado ocasiona nova invasão e um ex-bem acomodado viajante .amparado por um daqueles ferros de sustentação do teto. exclama: "trem da Central é igual a coração de mãe. sempre cabe mais um..."
Esta cena é uma constante nos transportes suburbanos da hoje Rede Ferroviária Federal (ex-Central do Brasil) principalmente nas primeiras horas do dia, ooasião em que os trabalhadores, vindos dos mais longínquos recantos do Grande Rio, se dirigem ao "batente"
Em dias de calor intenso a viagem fica insuportável e altera sobremodo o sistema nervoso dos passageiros e resulta nos tradicionais "Quebra-Quebra" de funestas .consequências, que poderia ser evitadas, se as intempestivas paradas das viagens, fossem devidamente explicadas. Hoje a direção da ferrovia apresenta um bom serviço de divulgação nas estações.
Em trânsito normal a viagem torna-se até divertida, fazendo até que os eternos mal-humorados consiga, algumas vezes, dar sinais de sua graça. quando das respostas (Intempestivas a qualquer intervenção jocosa .de um companheiro.
Há anos, conseguimos que daqui de Realengo, todas as manhãs, saísse uma composição com destino à cidade. Imediatamente o trem foi cognominado de "Boca Rica", o que era realmente para os moradores do populoso subúrbio. O "Boca Rica” se tornou conhecido por todo o Rio de Janeiro, pelas festas natalinas promovidas pelos seus usuários ,darante as quais o maquinista responsável — Bahiano — era homenageado .recebendo presentes dos viajantes que enfeitavam a composição. O verdadeiro "Trem da Alegria” durou' cerca de cinco anos e, apesar dos apelos .não mais voltou a circular. O interessante era que Bahiano, o maquinista nem conhecia a "Boa
A viagem em qualquer comboio ferroviário à qualquer coisa de divertida principalmente devido o convívio entre as mais variadas classes sociais que resultam em sólidas amizades, através de jogos de "sueca", debates políticos e discussões sobre futebol, corrida de cavalos e até palpites para o tradicional jogo-do-biclïo, o passa-tempo preferido pelos cariocas, ou melhor, pelos brasileiros.
Costumo ficar atento aos acontecimentos ocorridos nas viagens de coletivos, das quais colho assuntos para esta coluna que, em breve comemora cinco ancs (aí está incluído "Coisas do Passado") e hoje passo a relatar algumas cenas.
Estávamos em Junho, no rigor do inverno. O trem relativamente lotado e, a um canto, uma senhora "tiritava" de frio a ponto de estar encolhidíssima. Entra um senhor forte, amparado por um bom número de camisas escondidas por um aconchegante casaco de couro. Vendo a senhora pargunta. em tom de deboche se a mesma está com frio. Com a resposta afirmativa ele radiante se declara amante daquela temperatura. Gosto deste tempinho que a senhora não imagina, não sei como tem gente que reclama de frio.
A temperatura está amena. O trem estava cheio. Em um banco que cabiam uns sete estavam onze, quando em Cascadura, entra uma senhora "tamanho família". Um passageïro ïncomodamente sentado, oferece seu lugar a nova passageira que aceitando "aboleta" seus quase um metro no espaço de 20 centímetros que lhes foí oferecido.
Os pingentes são desabusados. Só viajam na porta do comboio. Dizem piadas a torto e a direito atingjndo aos transeuntes quando a composição passa perto de qualquer rua. Naquela dia de calor intenso uma turma de trabalhadores da via permanente, num trabalho ingrato de ajusta os dormentes com pedras britadas que fazia sair suor por todos os poros, Passando por perto, um pingente, grita:
—-Ei meu chapa, está encoatondo ouro aí?
Ninguém ouviu a resposta-reação dos trabalhadores. Foi bom assim.
Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 07/07/1980
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
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