domingo, 12 de outubro de 2008

O CUNHADO CAÇADOR DE PAPAGAIO

RIO - Especial para Tabu - Dizer que uma das colunas que mais aprecio em Tabu é "Antigamente"', não é novidade, já que algumas vezes ela vem servindo assunto para as minhas crônicas, na maioria versadas em fatos do passado. Como hoje no "Jornal da Manha”, há tempos mantinha no “Diário da Tarde, ambos de Ilhéus, escritos sobre assuntos verificados no passado”.

O "intróito” é para justificar esta crônica cujo tema foi inspirado numa das colunas de "Gavião do Norte", quando o companheiro se refere a um velho companheiro e parente por afinidade, o ferreiro José Ferreira Gomes que segundo notícias recebidas de Salvador está se “arrastando com problemas coronários, lá pelos lados de Pituba assistido por seu filho Liomar, um militar que, nas horas vagas, exerce a profissão de dentista-protético”.

José da Velha, o ferreiro da Rua do Brejo, um autêntico bonachão, levava um bom tempo para cobrir o percurso de pouco mais de 300 metros entre sua residência, na General Pederneiras a oficina na Rua do Brejo. Ele além de Caçador de Papagaios - conforme relata Gavião do Norte, era emérito cevador de guaiamuns, para o regalo dos seus amigos, àquela paciência e fala arrastada e anasalada só transformava quando se dirigia, ao "viveiro” para "fisgar" os gordos e “bitelos" crustáceos, que a saudosa Maria preparava alegremente, marca registrada de quem está sempre satisfeita com a vida

O personagem de Gavião do Norte gostava dedilhar um velho violão na esperança, jamais alcançada de se tornar exímio violonista Mas dava nas horas enluaradas, "para quebrar o galão" na base do "besta é tu"| repetido no mesmo tom.

O "Caçador de papagaios" tinha, entre seus parentes, uma irmã, de nome Dorinha, casada com Zuza, bastante conhecido nas rodas boêmias da cidade possuidor que era de um "Pau Fincado", na Birindiba, refúgio dos notívagos. Dorinha mantinha em funcionamento o "boteco" quase que durante as 24 horas do dia, principalmente quando das festas de fim de ano, que se prolongavam até o carnaval. Paciência estava localizada nas veias da dupla que tolerava as reiteradas "penúltimas" da freguesia formada por aqueles que começam sempre exigindo mercadorias de primeira mas do meio para o fim é na base do que o "que vem na rede é peixe". Muitas vezes o Zuza "ajudava" os fregueses na "lubrificação" das gargantas o que era um verdadeiro "páreo duro"

Certa vez Zuza me aprece em Ilhéus com sua Dorinha e a devida apresentação do José da Velha. Ficaram hospeda dos minha residência e o motivo da viagem, o estado de saúde da companheira que foi imediatamente internada na Santa Isabel, recentemente inaugurada.

Foram uns quinze dias de preocupação para todos nas. Zuza não "tirava o pé" da Casa de Saúde e nem deixava de “assinar o ponto na vendinha do Pacífico, onde primeiro tentava afogar as suas magoas e lamentar chorosamente a situação de Dorinha, e depois por hábito”.

Já sabíamos da situação da doente através da fisionomia do companheiro, apesar da dificuldade para qualquer pessoa para decifrar a "charada". Isto porque o homem chorava em todas as fases de tratamento da mesma forma que se "lubrificava” na ida e na volta das visitas a doente.

A "odisséia" levou fim 15 dias e a visita ao “botequim só se encerrou quando o apito do “Canavieiras” deu o ultimo sinal me obrigando a “arrastar” Zuza, do Sul-Americano que em prantos bebemorava o restabelecimento da sua Dorinha”.

Na primeira oportunidade que me apresentou, relatei a "odisséia" do Zuza, ao seu cunhado o "Caçador de Papagaios". Depois toda a vez que encontrava Zé da Velha, ele perguntava! Será que o Zuza parou de chorar?

Rubens Esteves da Silva 30 03 1981

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