sexta-feira, 31 de julho de 2009

Zé vencedor e os quatro ovos.

RIO — Já conhecia há meses, «TABU», um velho e moderno quinzenário Canavieirense fundado em 1968, pelo jornalista Tyrone Perrucho e hoje dirigido por G. Perrucho e tem como proprietário a Grafessos. Conheci o Tablóide por intermédio do jornalista — trovador dos Diários Associados, Symaco da Costa, hoje gozando uma tranqüila aposentadoria.

Mas, esta semana, por uma deferência especial dos seus editores estou recebendo o último número do TABU que terá como legenda, a defesa dos interesses da região cacaueira confirmada através da farta matéria publicada por todas as suas páginas.

Muitas curiosidades, inclusive.compiladas dos jornais locais «O Progressista» e «A Razão», editados na cidade sulina, nas primeiras décadas deste século. Das curiosidades publicadas destaco além do protesto de João Antônio de Sousa, contra a noticia da invasão, que não houve, da sua casa pelo então tenente Miguel Rocha, e do gerente do «Café Pedroca», desmentindo ser o mesmo misturado com areia, além do protesto contra o enterro de indigentes completamente nus e do falecimento do suíço Carlos Muller, pioneiro da compra de cacau em Canavieiras, ocorrido em 1918. O estilo e a ortografia da época, nos traz recordações indeléveis dos bons tempos da rivalidade entre -Belmonte e Canavieiras, quando, sob a alegação "de "pacificação entre as duas cidades, realizavam excursões esportivas que serviam para agravar a situação, pois sempre os jogos terminavam em brigas e correrias, temperadas com intensa pancadaria tanto no campo do mangue, em Canavieiras, como na Praça da Matriz, em Belmonte onde os moirões que cercavam os gramados serviam de armas para os litigantes.

Lembro que certa vez o «São Paulo», clube belmontense promoveu uma excursão a Canavieiras. Na chefia estava o português José Vencedor, que foi a frente:- de numerosa delegação transportada pelas lanchas a motor de Sebastião Pinho e Brás Gifoni. O quadro visitante estava bem afiado e todos acreditavam na vitória final.

Corno sempre acontecia, a delegação belmontense foi festivamente recebida comparecendo no cais da Cia. Bahiana grande número de torcedores locais rigidamente controlados pelas autoridades canavieirenses. O hotel de Araújo e a pensão, de Antônio Magno ficaram superlotados pelos visitantes que confiavam piamente no êxito dos seus jogadores.

Finalmente, é chegada á grande hora do jogo. Não sei se ainda é assim. Naquela época, o campo canavieirense era localizado entre as áreas de mangues e apenas com uma entrada de acesso, ou seja, por uma estreita via o que dificultava a entrada para os torcedores, principalmente nos jogos com clubes de fora. Na hora do «entrevero» muita gente caía no mangue até a situação se normalizar.

Ao início do jogo Suruba Bafica o ponta direita belmontense abre o escore, animando os visitantes. Porém os locais pouco a pouco tomam conta do campo e conseguem quatro tentos para a alegria dos locais que eufóricos, se limitam apenas a vaiarem os visitantes, concentrando a gritaria, em torno do chefe da delegação José Vencedor que chegando ao Hotel do Araújo solicita o jantar.

O hoteleiro, “sem outra saída”, pois a dispensa foi completamente «raspada» manda fritar uns ovos para o presidente da embaixada visitante.

O cozinheiro corno que para «gozar» o português, serve quatro ovos fritos.

Irritado com a derrota e, sobretudo pelas vaias, ao ver o prato que lhe foi servido, exclama:

— Raios que o parta. Hoje tudo é quatro. Só mesmo dando nesta gente com um gato morto até fazer «miare».

A reação do José Vencedor foi recebida com uma forte, gargalhada que impediu que se ouvisse os motoristas das lanchas solicitando o embarque de volta dos visitantes, para que não se perdesse a maré, evitando o encalhe na passagem do «Peso»

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 22/05/1979

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