sexta-feira, 31 de julho de 2009

Raulino Santos – Um verdadeiro craque

RIO — Ha dias precisava me comunicar com Belmonte, para fazer chegar, a pessoa amiga, o resultado de uma "investigação" solicitada, que consistia em localizar, para uma mãe aflita, seu filho nesta Metrópole. Justificava a preocupação a falta de notícias do jovem, cuja genitora o julgava desaparecido.

Resolvi telefonar para o Hospital Santa Casa da Misericórdia onde na certa, encontraria seu provedor, o dinâmico Tenente Jerônimo Rozendo de Oliveira — para mim o sempre Gilozinho de dona Cezarina — afim de que o mesmo transmitisse já ter localizado o "desaparecido", pondo fim a natural preocupação da família do rapaz, que por sinal já havia "dado sinal de vida" a seus parentes.

A escolha do Tenente Jerônimo para a comunicação e justifica pela certeza de encontrá-lo ao "pé da obra", já que o dirigente do Hospital da Praça da Matriz dá um plantão de 24 horas por dia; na remodelada casa, hoje uma das melhores do sul-bahiano, dona que é de moderníssimas instalações. E não estava enganado. O telefone foi imediatamente atendido, através de uma transmissão nítida, apesar da comunicação ter sido feita em hora de intensa movimentação.

Mas, enquanto eu dava o meu bom recado — limitando o tempo com receio da implacável Companhia Telefônica — recebia uma notícia desagradável, Estava dando entrada no Hospital, com graves problemas cardíacos, o velho amigo e companheiro de infância, Raulino Santos. Pela forma com que Gilozinho falava, senti logo o drama do conterrâneo cujo restabelecimento era difícil, conforme se verificou logo depois com o seu falecimento.

Raulino, na época de ouro do futebol ilheense. esteve na Capital do Cacau, integrando a equipe do América Esporte Clube, na segunda metade da década de 30 quando demonstrou o seu “virtuosismo” no velho Estádio do Satélite integrante que era de uma das melhores linhas dianteiras exibidas na cidade, formada de Tavinho, Nelson Monteiro, Raulino, Bem e Nascimento. Atrás estavam Labirinto — substituído por Aires — Orlandinho e Vadinho, Rafael Filhinho e Filó.

A impressionante exibição de Raulino —um centro-avante de pequena estatura fez com que dirigentes do Vitória tentassem a sua transferência de Belmonte para Ilhéus, inclusve garantindo ao esportista visitante um emprego na firma Wildberger, que seria uma simples transferência, já que Raulino trabalhava numa firma congênere na sua cidade, ou seja na Rapold, Manz e Cia, compradora de cacau. Na época houve até uma reunião no escritório do Loyd Brasileiro com a participação de Amaral Carneiro e Chico Pinto quando as alegações dos locais não convenceram o "crack" belmontense que, diga-se de passagem, anos depois me confessou arrependido, principalmente pela discriminação sofrida quando de sua aposentadoria, depois de muitos anos de dedicação.

De há muito Raulino que foi vereador em várias legislaturas e funcionário da secretaria da Câmara Belmontense, vinha como traumatizado e, quando podia se desviava dos velhos amigos nas periódicas visitas a "santa terrinha" para render graças a Nossa Senhora do Carmo. Comigo era difícil o desencontro, pois sempre "forçava a barra" e conseguia alguns momentos para as lembranças gostosas das noites enluaradas da Praça da Matriz, quando passávamos em desfiles respeitáveis personalidades como Tiago. Valverde, Pedro Bandeira, Permínio Santos, Teófilo Barros, Antônio de Astério, Ascânio Imbassay, Melquíades Nascimento, Saturnino Costa, João Bambola, Melo Poassu, Dr. Péricles Trajano Reis, Inocêncio Costa, Epifânio Conceição, José e Joaquim Ramos de Andrade, Jersulino Lopes e uma plêiade de homens que fizeram época na nossa cidade, por nós respeitados e até reverenciados.

No ano passado, num rápido encontro na remodelada Praça 13 de Maio, eu e Osvaldo Peixoto — outro belmontense que "se mandou" para outras paragens, mas anualmente presente às solenidade em louvor a Virgem do Carmo — revivemos momentos da nossa infância, juntamente com Raulino Santos que estava até eufórico inclusive soltando gostosas risadas; como que se despedindo de dois companheiros velhos.

Naquela tarde lembramos de Eusébio Quebra-Varas, pai do fazedor de "arrais" o barbeiro Pânfilo, no dia em que '"afanou" uns quiabos do compadre quitandeiro Zé Mamão e pôs na cabeça, cobrindo com o chapéu, mas que na chegada de um terceiro personagem, se esqueceu do produto do furto e, se descobrindo, sob o espanto geral, viu os quiabos se espalharem pelo chão.

Prefiro lembrar o Raulino eufórico e contador de casos para esta coluna ao triste, sorumbático e arredio Raulino um dos monstros sagrados do futebol belmontense.



Rubens E. Silva Jornal da Manhã – Ilhéus, BA 12/Dez/1980

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