sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sargento Hermâncio, o imprevisível.

RIO — Em 1943, quando foi inaugurado o pioneiro Conjunto Residencial do IAPI, do Realengo, este subúrbio era um dos que possuía mais soociedades recreativas, no antigo Distrito Federal. Na maioria com departamento de futebol, exceto as mútuas Progressista e Vila Neva, cuja finalidade era prestar assistência funerária aos seus associados. Muitas desapareceram devido as constantes reformulações das leis que dificultavam a sua existência ou mesmo a criação de novos núcleos sociais.



Como não podia deixar de ser, os locatários do novo Conjunto resolveram também, fundar a sua agremiação, que recebeu o nome de Centro Recreativo Industriários de Realengo, mais conhecido pela sigla CRIR, inaugurado oficialmente no dia 1° de janeiro de 1944, com uma solenidade em que participaram, além do presidente do IAPI, dr. Plínio Catanhede, a saudosa Assistente Social Zenith Miranda, incentivadora da nova entidade que desta maneira preenchia um dos pontos do programa do centro habitacional.



Dentre as organizações de Realengo, estavam o Cruzeiro, Jaú, Ipiranga, Realengo, Coqueiros e o Rarum, este formado de sargentos dos quartéis sediados na área militar compreendida entre Deodoro e Realengo, incluindo Magalhães Bastos e Vila Militar.

O intercâmbio entre as entidades era intenso e dele passou a participarem o Grêmio Estudantil e Liberdade Clube Atlético, este de funcionrios do Instituto. Os dirigentes tinham transito livre durante as festidades das coirmãs e nas grandes festas, como aniversario e coroação da Rainha da Primavera. O trânsito é estendido aos associados, em pleno gozo de seus direitos. Até hoje é censervada muito amizade nascida naquela época.

Foi como diretor do CRIR que visitando o Rarum, conheci o velho sargento Hermâncio, mais precisamete Hermâncio da Silva Neto. Bom camarada. Alegre e o que nós lá no Norte chamamos "sem bondade". De atitudes imprevisíveis hoje Hermâncio um pacato capitão do Exército, reformado, arredio das atividades sociais que a juventude modificou, podem dizer, radicalmente.

No primeiro encontro, o convidei para a festa de aniversário de uma sua filha, na Vila Militar. No dia da festa o tempo se apresentava normal mas depois do meio dia o aparecimento de nuvens densas, anunciava uma noite chuvosa, o que realmente aconteceu, a maioria dos convidados deixou de comparecer ao "parabéns pra você" c garota do nosso velho amigo. O mau tempo e o reduzido número de participantes, contrariaram os pais da aniversáriante, pois a despesa com salgados, refrigerantes e chopp foi enorme. Para "afogar" a contrariedade, Hermancio começou a bebericar e a certa altura, aparece no centro da sala e num patético apelo, exclama:

— Por favor bebam e comam a vontade. Tudo está pago. Por amor de Deus bebam mesmo... »

De outra feita recebi um bem elaborado cartão-convite para outro aniversário na casa do Hermâncio. Não era convite. Era uma intimação. No dia aprasado, os convidados, em grande número, apareceram e na hora de apagar as "velinhas"' surge a aniversariante. Surpresa geral. Quem completava tempo era uma cachorrinha.

Como qualquer mortal, Hermâncio tinha um inimigo gratuito. Seu vizinho que não se conformava com as alegrias do sargento, parecendo até ter ogeriza aos ótimos conjuntos musicais que abrilhantavam as festas. Inclusive, proibia que sua filha, uma jovem mocinha, frequentasse a casa do sargento.

Certa noite o "inimigo" é atacado de mal súbito. A primeira pessoa que lhe assistiu foi justamente o velho Hermâncio que tentou transportá-lo para o hospital. Não foi possível. O vizinho morreu nos seus braços.

E' assim o imprevisível Hermâncio da Silva Neto. Para mim o capitão reformado é o mesmo sargento do Rarum.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 01/11/1978

Nenhum comentário: