— Foi um encontro fortuito, lá em frente ao desaparecido Hotel Avenida -— o preferido dos ilheenses — com Elísio Nunes, pioneiro dos transportes coletivos na Capital do Cacau. Foi em julho de 1943, justamente quando estava em dificuldades devido a guerra procurando resolver como chegar a Princeza do Sul, afim de transportar a família para o Rio onde acabara de fixar residência.
Naquele encontro com o saudoso homem de negócios, ficava praticamente solucionada minha situação, pois Elisio Nunes me ofereceu uma passagem no ônibus que acabara de adquirir em São Paulo, para aumentar a sua frota que fazia ligação rodoviária na zona Cacaueira. Apenas um detalhe: A viagem seria iniciada na cidade mineira de Montes Claros, para onde deveria me dirigir e estar em determinado dia. A cidade distava do Rio cerca de 1116 quilômetros por via ferroviária.
No dia aprazado iniciei a viagem, na "gare" D. Pedro II com destino a Minas Gerais, ou melhor para Belo Horizonte, onde cheguei depois de 16 horas, durante as quais em quase todas as paradas era obrigado a exibir documentos de identificação à policiais. Depois de pernoitar na capital mineira, prossegui viagem, ainda de trem, por mais de 10 horas, até Montes Claros. Mesmo incômoda, devido ao entra e sai de passageiros com as mais variadas bagagens, a viagem de trem pelo interior é bastante divertida.
Agradável surpresa me aguardava em Montes Claros, Lá estavam, entre os 13 passageiros, componentes da comitiva, Henrique Lucas e família além da esposa do Nunes e os comerciantes Tagarela, e Moisés. Todos conhecidos que serviram para amenizar os percalços da viagem feita em estradas intransitáveis, na sua maior parte e que exigia muito da perícia do motorista Antônio, verdadeiro "az" do volante; O motorista ia imune às reclamações dos passageiros que não se cançavam de criticar o governo pelo. estado das estradas-Em compensação, parecia estar confiante nas orações de d. Graziela Lucas, que desde o embarque não abandonou seu rosário, fazendo prece pela integridade dos seus companheiros.
Foi, de fato, uma viagem interessante e cheia de surpresas, tais como a existência na cidade de Francisco de Sá, de uma rua calçada a cristal de rocha, mantida. iniatacta apesar de na época o mineral- se constituir de matéria prima de alta utilidade nos preparativos bélicos para a segunda grande guerra. Também surpreendeu a comitiva a temperatura negativa de um lugarejo chamado Itamarati, que, para a "gozação" da maioria, obrigou Henrique Lucas lavar o rosto usando luvas. O preço da cachaça, mais barato que um cafezinho também nos chamou atenção.
Finalmente, depois de três dias chegamos a Vitória da Conquista e depois de uma noite de descanço seguimos para Ilhéus. A viagem que era animada com as piadas de Tagarela, ficou animadíssima com a adesão de mais um companheiro, Hamilton Almeida e as 13 últimas horas foram efetivamente maravilhosas e descontraídas. Ao atingir o ápice da Serra do Marcal, a delegação foi obrigada a descer e seus componentes a deixar seus autógrafos, numa homenagem ao seu construtor, o conterrâneo Raymundo Costa. A rodovia ligando as três serras é, de fato, uma obra monumental da engenharia brasileira. Ao chegar a Ilhéus a comitiva havia percorrido, além dos: 1110 quilômetros ferroviários, mais 889 rodoviários, levando cerca de 4 dias. Hoje, apenas 21 horas, pela litorânea e 29 pela antiga Rio-Bahia, se faz esta ligação, isto porque o DNER limitou a velocidade dos veículos.
E por falar em estradas é bom se fazer um apelo ao Departamento de Estradas de Rodagem no sentido de uma eficiente conservação nas rodovias, pois nas duas
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 12/07/1978
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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Um comentário:
Suas historias me lembram muito as conversas que eu costumava a ter com meu pai , Paulo Fiusa Tavares falescido em 2011,cresci ouvindo as historias de seu avo Misael Tavares , seu tio Gumercindo as viagens do Rio para Ilheus e para as fazendas , as estadias no Ilheus Hotel.Genial poder ler esses fatos historicos.
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