Houve tempo que a Escola de Aprendizes Marinheiros era uma espécie de abrigo para garotos rebeldes, àqueles cujos pais não conseguiam «endireitar». No último recurso vinha a sentença fatal:
─ Vou te mandar para a Marinha. Lá vai encontrar dureza. Você vai aprender a ser homem.
Efetivamente a Escola de Aprendizes Marinheiros, onde ela se encontrasse, recebia de braços abertos os seus alunos, sem procurar saber seus antecedentes, pois tinha certeza de não estar recebendo nenhum "anjinho" mas que os métodos da casa iam funcionar e acabavam por lapidá-los, como acontecia invariavelmente com a maioria que ficava no estabelecimento Lá de lato se aprendia a ser gente.
Mesmo em Ilhéus temos pacatos cidadãos, hoje reformados que, na juventude foram " expatriados" para a Escola de Marinheiros e nas suas primeiras férias mostravam a diferença de comportamento.
Por exemplo. Quem pode dizer que "Mica", do velho Laureano Brandão, era um endiabrado garoto Que trazia em polvorosa a Rua das Quintas e as praças Castro Alves e Ruy Barbosa?…
Hoje entretanto, tudo se modificou. A Marinha não é mais àquela formada, ou melhor, obrigada a «endireitar» seus futuros componentes
Para se ingressar na corporação militar é preciso ter bom comportamento, além de relativo saber, demonstrado através de uma prova de seleção onde os candidatos devem ter curso ginasial para enfrentarem milhares de pretendentes e conseguirem a classificação desejada.
Em meados de 1930 sem o prévio aviso me aparece em Iiliéus um primo me trazendo a incumbência de mandá-lo para a Escola de Aprendizes Marinheiro de Salvador. Seu pai. meu tio João Batista Esteves, baseado em que lugar de menino rebelde era a Marinha, queria a confirmação da acertiva. As informações a respeito do garoto eram as piores. Mas o garoto com os seus quase 14 anos não era tão rebelde assim. Apenas não gostada de ser molestado. Não engeitava parada. Dumas era seu nome.
Com seu sotaque de mineiro que era de nascimento, começou a ser "gozasdo" pela garotada ilheense.Reagia a «gozação» com agressão. Constantente recebia reclamações ou informações sobre as brigas do Dumas, que, enfrfentava os grupos que lhe atacavam e muitas vezes levando vantagem.
Certo dia trabalhava normalmente no "Diário” quando um «biribano» gazeteiro vem me avisar que o primo estava brigando com uns três , sob os aplausos de numerosa assistência. O embate era no Largo do Unhão. Me dirigi ao local e verifiquei que, entre os torcedores estava o cel. Henrique Alves, tradicional personagem das lutas na região e que, na época, mantinha em suas fazendas remanescentes que encaparam das forças do tenente Sobrinho, segundo se propalava. Torcia por meu garoto. Desapartando a luta me dirigi ao fazendeiro advertindo:
─ Fique tranquilo coronel, este o senhor não levará para a sua fazenda.
Dias depois por intermédio da doutora Odília Lavigne, esposa do então prefeito Eusínio Lavigne, Dumas foi agregado a Escola de Aprendizes Marinheiros de Salvador, onde, ao completar 14 anos /, ingressou oficialmente na tradicional organização militar ,
Hoje o Dumas Ramalho Esteves, é um pacato cidadão, chefe de uma família composta de esposa, filhos e netos, residindo em Santo André, São Paulo,
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 19/08/1978
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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Um comentário:
Este João Batista aqui mencionado teve dez filhos, que na ordem decrescente de idade (salvo engano meu) são:
Odete, Dumas,
Antônio, Dinai, Darlington, Reginaldo, Dionor, Maria Amélia, Dulce e Dimaldo. Conheci pessoalmente todos os meus tios e tias, mas não tenho lembrança da mais velha senão poer fotografias antigas. Somente as tias Maria Amélia e Dulce ainda vivem, e o tio caçula, Dimaldo.
Lembro de minha tia-avó Amor, mãe do cronista, que conheci ainda em idade pediátrica, e ela já idosa.
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