sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sagacidade ─ fator de prosperidade.

RIO — Dificilmente uma pessoa que «do nada» e, por força do seu trabalho laborioso e, naturalmente com um pouco de sagacidade, vence na vida, recebe de parte da população, os elogios a que faz jus. Mesmo que a ascensão seja resultado da eliminação de qualquer lazer ou mesmo de um período, por pequeno que seja de descanso para a recuperação das forças perdidas durante suas atividades.

De modo geral, se cria em torno de tais elementos, histórias e anedotas que, repetidas, tomam forma de fatos verdadeiros, na base de que "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura"'.

Tratados como «canginha», «unha de fome», «munheca de porco», «avarento», «papagaio no arame», «sumítico» e de “mão fechada", tais elementos passam a ser vítimas da sociedade, mesmo depois, devido a sua nova posição nela ingresse. Aí as insinuações tornam novas roupagens e os criticados de ontem recebem os mais arraigados elogios, destacando a sua inclinação para a arte de negociar. Porém, no meio da "gentinha"', a fama permanece.

Efetivamente não se pode vencer na vida se o trabalho, por mais laborioso que seja a pessoa, seja isenta de sagacidade.

Agora mesmo acaba de falecer Paes Mendonça, dono de poderosa rede de Supermercados, iniciada em Salvador, mas avançando por toda região cacaueira. Sergipano de origem humilde, com trabalho e perseverança construiu um verdadeiro império, alcançando sólida fortuna. Um comerciante sagaz, sempre fazia imperar a sua vontade no acerto de qualquer transação.

Certa vez Paes Mendonça foi procurado por um "caixeiro viajante" que ia lhe propor a venda de uma grande partida de arame farpado. Entrou em negociação e já tinha feito o máximo de redução no preço sem, entretanto, chegar a um acordo pois o negociante ainda relutava no sentido de efetuar a compra. A certa altura, Paes Mendonça pergunta qual o espaço entre um grampo a outro do arame. Oito centímetros, respondeu o vendedor.

Você não poderia sugerir a fábrica aumentar o espaço para dez centímetros ?

E o negócio foi fechado, naturalmente com a sugestão do Mendonça.

Outro injustiçado foi o coronel Misasel Tavares. Muitas histórias em torno daquele que, de simples tropeiro, se tornou no homem mais rico da Bahia. A mais corriqueira era de que as anotações das compras a crédito feitas pelos seus empregados eram feiras em duplicata.

Mas o sergipano de Ilhéus a par de sua propalada falta de instrução, tinha um tino administrativo excepcional, além de ótimo estrategista. Muitas vezes, guando trocava idéias com seu genro e famoso advogado Gileno Amado acerca de ações Judiciárias, após ouvir os planos que seriam executados pelo causídico, dava a sua sugestão que, invariavelmente era adotada pelo causídico. A tese do Rei do Cacau sempre saía .vencedora.

“Em Itapebí, Sul da Bahia, tenho um primo, chamado Petrônio, tido e havido como ‘‘sovina”. Nada disso. Ele é apenas um trabalhador dinâmico que, depois de ficar com as finanças arrazadas, devido a uma frustrada tentativa de suicídio, mesmo antes de se recuperar, se embrenhou pelas matas e após trabalho laborioso reconquistou a sua independência. Deu a "volta por cima” e é hoje um médio fazendeiro que não compra nem vende fiado. Também não "fecha" a sua produção de cacau.

Antes, Petrônio era balconista que, depois de ser despedido pelo patrão, por insinuações de terceiros e rejeitar um convite para voltar, se estabeleceu. Como os dois citados, o primo tinha uma sagacidade e presença de espírito dignas de nota.

Certa vez uma freguesa lhes perguntara quanto custava um litro de querosene (gás no interior). Um mil réis responde o negociante.

— Seu Petrônio, o senhor. não deixa por mil e quinhentos?

Pois não, minha tia. É só para a senhora que é uma boa freguesa.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 25/10/1978

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