sexta-feira, 31 de julho de 2009

A morte de um astro brasileiro.

RIO — Com quase 81 anos de idade, acaba de falecer João Álvaro de Quental Ferreira, o popularíssimo Procópio Ferreira que, por cerca de 60 anos, participou intensamente da vida artística do país, como ator, autor, empresário c proprietário de Companhia de Teatro.

Procópio Ferreira foi o artista brasileiro que mais viajou e talvez, o que visitou todas as principais cidades do Brasil e do exterior, levando seu indiscutível talento e recebendo os mais entusiásticos aplausos e elogios da imprensa nacional e internacional, onde demonstrou a sua versatilidade, desempenhando os mais variados papéis, do comediante ao dramático.

Os jornais de todo o país publicaram necrológios, enaltecendo a vida artística daquele que, aos dezesseis anos de idade, estreava profissionalmente no teatro, depois de ter abandonado o convívio da família, fugindo as exigências do seu pai, na época dono de um estabelecimento comercial.

O corpo do artista foi velado no Teatro Municipal, onde foi visitado por milhares de pessoas, dentre as quais personalidades do mundo artístico, social, eclesiástico e político. A municipalidade decretou feriado, para assinalar seu pesar pelo falecimento.

A saída do féretro, da tradicional casa de espetáculos, os milhares de pessoas que lotavam a Cinelândia, tributaram ao velho artista, uma emocionante homenagem — raríssimas vezes verificadas em casos idênticos —que consistiu numa calorosa salva de palmas, repetindo naturalmente as que o «astro» estava acostumado a receber nas suas apresentações.

Dentre as milhares de peças representadas por Procópio, uma se destacava com a particularidade de ter sido feita para o artista. Era o «Deus Lhe Pague», do intelectual dramaturgo Joraci Camargo. Dizem os jornais que Procópio a representou cerca de três mil vezes «Deus Lhe Pague» foi feito especialmente para Procópio Ferreira e, invariavelmente, constava dos programas de suas apresentações, quase sempre por imposição da própria assistência.

Como não podia deixar de ser, Ilhéus também assistiu, na década de 30, a peça, encenada também em vários países e considerada a pioneira, no teatro, de crítica social, que se fazia na época. Mas Ilhéus nesta apresentação, não contou com a presença do extraordinário artista recem-falecido, que, por motivo particular, estava «indisposto», com Joraci Camargo que, com raro brilhantismo, substituiu o «astro» e criador do papel principal da peça, um mendigo, em torno do qual se desenvolvia a história do imortal escritor.

Lembro-me deste detalhe devido às constantes visitas de Joraci Camargo a redação do «Diário da Tarde» para manter diálogo com Octávio Moura e Carlos Monteiro, este de traços fisionômicos iguais ao autor. Nos encontros, sempre surgiam anedotas sobre os mais diversos temas, especialmente o político.

Certa vez assisti um destes «papéis» na redação do tradicional jornal, encerrando com aquele «sabe da última?».

O saudoso Presidente Getulio Vargas, depois da Revolução Constitucionalista, promovida por São Paulo, resolveu modificar as normas que vinha adotando na sua política e anunciou a modificação do sistema da eleição que passaria a ser secreta. Na reformulação e depois da eleição, o presidente teve que modificar seu ministério, iniciando por afastar o então ministro da justiça que, se não me engano, era Agamenon Magalhães. Nomeou para responder interinamente a pasta, o ministro Marcondes Filho, titular do Ministério do Trabalho.

Alguém estranhou a atitude do Presidente, lembrando o trabalho de Marcondes Filho para responder por . dois ministérios.

Getúlio com àquela calma que Deus lhe deu, respondeu:

— Não se preocupe. Não vai haver muito trabalho, pois no Ministério da Justiça não há trabalho e no Ministério do Trabalho não há justiça.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 04/07/1979

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