RIO — O Serviço de Proteção ao Crédito, como entidade jurídica, é uma instituição relativamente nova. Creio não tem 20 anos. A sua criação se deve face ao crescimento desmensurado dcs caloteiros, ou seja dos maus pagadores. Tinha mesmo de ser criado um órgão defensor dos comerciantes e sua ampliação, por todo o país, é plenamente justificada.
Os vendedores ambulantes, os "mascates", devem ter sido mentores ou idealizadores de tão utilíssimo serviço verdadeiro terror dos "marreteiros"'. uma classe nociva e constituída de verdadeiros "artistas" na arte de “engrupir” os incautos ou mesmo os mais perspicaz dos cidadãos. E o caso de perguntar. Quem escapa de uma boa conversa?
Desde jovem conheço e até lido com vendedores ambulantes. Na minha terrinha da região sulina da Bahia, Belmonte, entre os "mascates", conheci uma dupla vendedora de jóias, Josino e Cosme Ourives, além de outros vendedores que ainda usavam "matraca para se fazer anunciar. Aliás o Cosme, sempre bem trajado e um pouco sisudo, era por demais católico de uma beatice extremada. Nas festas religiosas, fossem interna ou externas, sempre demonstrava a sua religiosidade, que vestindo a roupa para acompanhar as procissões ou quando eventualmente auxiliava o santo ofício da missa. A qualquer rumor mais acentuado na igreja demonstrava, com um olhar penetrante, a sua desaprovação.
O extremado respeito aos santos era exposto quando das festas juninas, em que fazia questão de aclamar os santos com um respeitoso "Viva Senhor São João ou São Pedro", o mesmo fazendo com o popularíssimo Santo Antônio. Lembro saudosamente do primeiro representante da Singer, Armando Liger da Rocha que vendeu, a prestação, uma máquina de costura, a minha saudosa mãe, por dois mil réis mensais.
Mas, vamos ao objetivo desta crônica que é falar sobre o Serviço de proteção ao Crédito que não é tão novo como parece, pois ele vinha existindo há anos, em caráter privado, ou melhor sigilosamente.
Sabemos que os judeus são tidos como os inventores das vendas a prestação. E neste ramo, na maioria das vezes, conseguem prosperar. Aí em Ilhéus, nos velhos tempos, tínhamos dentre outros, Jayme Sckraibe, Arnaldo, Zizemberber e Jacob, estabelecidos em diversos ramos de negócio, principalmente em móveis. Nas ruas estavam o Marcos e o "Camono”, velhos conhecidos na região cacaueira. Certa vez encontrei "Camone" numa cidadezinha do interior convencendo um "freguês" a comprar um corte de fazenda. Foi uma cena inuzitada. O mascote empregava um dialeto incompreensível, misturado de mímicas, como se estivesse chegado recentemente ao Brasil. Ao me ver fez um sinal claramente compreensível.
Porém, a minha convicção de que o Serviço de Proteção ao Crédito não é tão novo assim, foi motivada por um encontro casual, nos idos dos 1940, com Marcos, um vendedor ambulante judeu, que conhecia aí de Ilhéus. Passava pela frente a minha residência quando o chamei para um cafezinho. Do café surgiu animado "papo" das coisas da outrora "Princeza do Sul". Recordações dos disputas em dados, das cervejas e chocolates, nos bares da Firmino Amaral.
Como não podia deixar de ser, a certa altura perguntei eo Marcos o motivo do passeio a Realengo. Negócios respondeu o Marcos, mais precisamente, cobranças. Neste assunto o velho companheiro passou a desenvolver a sua atividade, até que curioso lhe perguntei como os ambulantes seus patrícios se livravam dos calotes. Surpreendentemente Marcos" tira dos bolsos duas relações de nomes e, sem mais delongas, foi dizendo: "Esta só tem cano de ferro", ou seja maus pagadores. Não queira nada com eles. Mas esta está constituída de gente boa. Pode fazer qualquer negócio com qualquer uma desta lista.
Como vê, está provado que os gringos, há anos, mantinham seu serviço de proteção ao crédito.
E olhe lá. Dizem que eles recebem como primeira prestação de sua venda, o equivalente ao preço da mercadoria vendida. O resto, tudo é lucro.
Jornal da Manhã Ilhéus/BA 10/04/1979
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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