sexta-feira, 31 de julho de 2009

Recordando Alberto Storino.

RIO — Esta crônica estava idealizada há muito tempo. Tinha por finalidade destacar a expansividade de um velho amigo e conterrâneo mas, com o passar do tempo, infelizmente ela vai se transformar em homenagem póstuma.

Estou me referindo ao saudoso Alberto Storino, radicado em Ilhéus, onde se estabeleceu com uma casa de modas masculina, na Pedro II, pioneira na cidade, das hoje popularissimas, ruas de pedestres.

Vítima de insidiosa moléstia, iniciada através do um dedo do pé, que depois de zombar da ciência médica, decretou a sua definitiva mudança para a "Província do Além", segundo a filosofia integralista da qual foi intransigente defensor.

Acompanhei de perto o dessnvolvimento da doença, pois sabendo duante uma visita a Ilhéus, do seu estado de saúde, fui visitá-lo, na residência, perto do Estádio Mário Pessoa, o encontrando bastante desanimado, como que prevendo o desenlace fatal.

Era a imagem oposta a que acostumara ver quando, como torcedor do América, seu clube preferido ou mesmo adepto da Lyra Popular, enfrentava "qualquer parada". Não estava ali o grandalhão que muitas vezes no Campo da Praça da Matriz, se indispunha com qualquer pessoa, mesmo amiga, na defesa do seu tricolor, o mesmo acontecendo durante os debates musicais entre a Lyra e a 15 de Setembro, eternas rivais.

Meses depois, aqui no Rio, algumas vezes fui visitá-lo no Jardim Botânico internado da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, já com a perna amputada e, mesmo vendo maravilhosos exemplos de recuperação o amigo continuava descrente. Ali na ABBR estava uma vítima do desabamento do Viaduto Paulo de Frontim, treinando com as duas pernas mecânicas, substitutas das naturais, numa demonstração emocionante de força de vontade.

Nos bons tempos de Belmonte, Storino era componente de uma turma de rapazes, da qual participavam Orlando Cruz, Eustáquio Barbosa, Jeová Paiva, José Trocoli e Albérico Magnavita, dentre outros. Todos torcedores do América e da Lyra Popular, residentes na área da Praça 13 de Maio e com trânsito limitado da Ponta de Areia, «Quartel General da15».

Certa vez, em agosto, a Lyra foi convidada para abrilhantar a Festa de Nossa Senhora d'Ajuda em Porto Seguro. Festa de romaria assistida por numerosos belmontenses que, na época, faziam a viagem de cerca de 18 léguas, no «russo canela». Como não podia deixar de ser, o grupo de Alberto Storino, acompanhou a caravana.

A tradicional festa é realizada no arraial d'Ajuda, distante da importante e velha cidade de Porto Seguro hoje atração turística por iniciativa do governo federal. Gente de várias partes do país se reúne na pequena localidade, vivendo nos dias 13, 14 e 15 de agosto numa promiscuidade digna de nota e não sentida devido o fervor da fé de muitos e momentos de prazer de alguns que comparecem para farrearem e «colaborarem» com os banqueiros de roletas e outras modalidades de jogos. Nesta estava integrada a turma de Alberto Storino, dando tudo que a irresponsabilidade juvenil é capaz.

No dia d'a festa, logo depois da soleníssimo ato da missa, a procissão e, para tal a tradicional escolhi de pessoas para carregarem o pálio, sob o qual as autoridades precedem o andor da milagrosa santa reverenciada.

O encarregado de arregimentar es fiéis para a tarefa, sobraçando algumas túnicas, vendo o animado grupo balmontense, se dirige ao Alberto Storino que parecia liderar o grupo e pergunta: O senhor que tomar a opa? Pensando ser um convite para, mais um «trago», o velho amigo, sem pestanejar responde; «Eu hoje tomo até o diabo»!

Surpreso com a resposta, o representante da igreja foi saindo resmungando: Cruz Credo. Que falta de respeito!

Quando foi advertido da "mancada”, Storino tratou de descer a colina rumo a Porto Seguro.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 03/12/1979

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