RIO — A coisa que mais chateava, o dançarino, principalmente nas festas do interior, é a presença nos conjuntos musicais, de violinistas amadores.
Primeiro, o problema da afinação, renovada toda vez que começa nova música. Depois as constantes quebras de cordas. Uma verdadeira parada. Os dançarinos ficavam indóceis, porém, sem nenhuma oportunidade de protestos, mesmo porque, tais violinistas, quase sempre o mais bem vestido dos conjuntos, eram os mais considerados pelos donos das festas. :
Em Ilhéus, tínhamos desses violinistas dos quais vou destacar meus saudosos amigos, já falecidos. O colega Aloísio Aguiar, que nos idos de 1930 publicava "O Grito", jornal de malhação, quando isso era possível devido a liberdade da imprensa e o conhecidíssimo Gregório Alfaiate. Ambos eram convidados, quase sempre para festas de aniversários, casamentos e batizados. Além do mais constantemente efetuavam festas em suas casas, quando "deitavam e rolavam" nos seus «Stradivarios» tupiniquins, sob os aplausos embevecidos de suas companheiras, Marocas e Machadão — que cumulavam os presentes de gentilezas e com mesas fartas dos mais variados pratos.
Muitas vezes, se juntavam aos dois alguns companheiros de farra, tais como professor Camilo e sua indofectível flauta, Cachoeira, no banju, Oscar Leite, no clarinete e Manoel Caboclo. no violão.
Mas esta crônica é dedicada aos violinistas do interior e, assim, vou relatar casos ocorridos que demonstram a importância de que eram possuídos tais músicos, que aceitavam todas as pilhérias e insinuações, porém, eram capazes de brigarem quando alguém chamava seus instrumentos de "rabeca".
Certa vez, em Belmonte, um meu colega de oficina, recém-chegado de Canavieiras, foi a uma festa na Preguiça, foco dos pescadores. Chamava se Eduardo Columbina, muito conhecido em Ilhéus onde foi funcionário da Capitania dos Portos, ao lado de Oscar e sob o comando de "Patifório".
Lá chegando, encontrou um "regional", sob a batuta do carpinteiro Sotero, tocador de violino e homem de grande prestígio entre os modestos pescadores. Era a primeira vez que o Eduardo assistia uma festa em Belmonte e, devido a animação reinante, resolveu dar uma demonstração dos" seus dotes canoros, pedindo ao conjunto para lhes acompanhar no que ia cantar. Aceito o pedido o cantor deu o tom e a orquestra se preparou para o acompanhamento menos Sotero que se esforçava para acertar o tom, A rangedeira do arco em cima das cordas ia se prolongando e o cantor se aborrecendo. A certa altura Colombiano contrariado exclama: "Afina logo esta Rebeca"... Sotero não gostou e reagiu com palavras de baixo calão enquanto seus companheiros atacavam o insólito cantor que teve de desaparecer pelos fundos da casa.
Em frente a Tipografia dos Monteiros, um velho canoeiro "arranhava" seu violino quando o satírico português Benjamin Andrade, para agradá-lo declara: Está fazendo um concerto, heim?"
E o tocador, entusiasmado, responde com certo orgulho:
— "Eu faço mas não conserto..."
Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 10/08/1978
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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