domingo, 16 de novembro de 2008

Uma seresta inconveniente

RIO — Acabo de ler, no JORNAL DA MANHÃ, interessante crônica de Caparaó, intitulada "Receita de Serenata". A sua leitura nos trás -recordações dos "tempos que não voltam mais", nos restando apenas o consolo de ver registrado, no escrito, um "monte de músicas inesquecíveis, ou -melhor, imortais, como Voz do Violão, Despertar da Montanha. Malandrinha, Flor do Mal e a eterna Chão de Estrelas



Mas, como disse Moreira da Silva. "conjeturando…”, ao ler a coluna do"Caparaó, me '"transportei" aos velhos tempos em que Ilhéus festejava os dias dos tradicionais santos, tais como: São João, Santo Antônio, São Cosme e São Damião, São. Crispim e Crispiniano, promovendo rezas que iam do tríduo às trezenas, rezadas em casas particulares e que terminavam em animados bailes.



Certa vez me propuz a uma reportagem sobre os festejos de Santo Antônio em .casas..particulares-.Registrei cerca de 27 na maioria terminando com bailes. Não havia ainda a Avenida Itabuna nem a Canavieiras, porém da Fonte da Cruz ao,Plano Inclinado, do.Gameleiro, até a.Conquista a animação era total, como fogos, fogueiras, etc.

Nas minhas andanças parei no Ceará'. Na casa do José Luiz, isto depois de uma paradinha na casa da Mãe Tereza, no Teresópolis, uma das mais animadas da cidade.



Rita, uma das filhas do Zé Luiz,,era . quem supervisionava a festa numa casa lotada de ponta a ponta. Desde a sala de visitas até ao quintal o grande número de pessoas dificultava o atendimento, coisa naquelas alturas sem grande importância.Licor,"canjica, doces à vontade.



Na orquestra estavam grandes músicos, dentre os quais Aldo, Marinho e Nonô.

A certa altura chega Soares Ourives, abraçado a um violão. Não tendo "vaga": segue até a sala de jantar e começa a cantar Cândido das Neves, Catulo Cearense e outros "ases" do inicio do século.



Numa parada da orquestra, Aldo vai até onde está Soares e começa uni "namorico com uma vizinha, da casa que estava na festa e quando Soares termina uma página de Catulo rebate cantando outra de Cândido das Neves e ao terminar novamente Soares trás outra canção, e assim sucessivamente, os dois travam um debate, a principio aplaudido por uma grande parte dos convivas. Mas a coisa já está afetando o baile, pois os músicos pararam ds tocar para assistir a tertúlia, com o que os mais jovens não aprovavam,, começando uma reação que foi num crescendo até que os dois resolveram parar, mesmo parque a moça havia desaparecido como por encanto. Soares e Aldo, por pouco não acabam a festa com aquele debate musical inconveniente para os dançarinos de Santo Antônio.

Rubens E. Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 28/01/1978

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