domingo, 16 de novembro de 2008

Sexta-feira, 10 de fevereiro de 1928

RIO — São passados 53 anos, mas ainda me lembro daquela Sexta-feira da primeira quinzena de Fevereiro quando, às 3,30 da tarde, Sousa Pinto começou a distribuição para a venda avulsa do primeiro número, do DIÁRIO DA TARDE.



O tumulto em frente ao número da Marquês de Paranaguá era enorme. Os jornaleiros — chamados biribanos - faziam uma algazarra infernal que abafava o barulho da rotação cadenciada da impressora dirigida pelo saudoso Aristotelino que, como sempre, de cara amarrada e fumando o indefectível charuto, parecia não prestar atenção o que se passava em seu redor.



Alcino Dórea, o mais entusiasta componente do quarteto proprietário da Editora não continha a sua satisfação, ao passar a vista nas folhas impressas. Francisco Dórea, que com Carlos Monteiro e Eusínio Lavigne, completava o quarteto proprietário da empresa, não sabia se ficava na sua Loja Variedades ou na redação, apreciando a calma do jornalista e diretor do DIÁRIO, tomando as últimas providências que antecediam o momento culminante, esperado desde os meados de dezembro. No tablado onde estavam localizada as oficinas, os gráficos já tratavam de compor os originais do segundo número sem tempo de apreciar o movimento da rua e o assedio e ansiedade dos futuros leitores que tomavam parte da rua e adjacências.



Naquela hora. quando o primeiro grito dos gazeteiro estava representada a fase inaugural de um jornal, nascido sob os melhores auspícios, mas que pouca gente esperava atingir meio século.



Para mim e para Carlos Monteiro, a experiência começará em Belmonte com a publicação do "Pequeno Diário” tablóide de 8 páginas editado em l.927 na cidade sulina. O jornal belmontense que, infelizmente não possuo nenhum exemplar, me deu a experiência necessária para assumir a chefia das oficinas do jornal ilheense além do aprimoramento para exercer a responsabilidade da paginação do futuro diário na “Capital do Cacau".



Como primeiro gráfico do DIÁRIO e por ter sico chamado a Ilhéus na segunda quinzena de dezembro, assisti inclusivo a instalação de sua oficina e a chegada da equipe arregimentada em Salvador, em janeiro quando começou o material tipográfico sendo que a impressora, vindo da Alemanha, ainda prestando serviço no jornal; chegou quase na mesma ocasião da chegada do gráfico, tendo a frente o saudoso Octavio Moura.



A impressora foi montada por um mecânico especializado também da capital bahiana, já que não incluíram a sua planta, por ocasião da embalagem e o mecânico mais capacitado para montá-la, na cidade. Juvenal Nascimento não conseguiu resolver a situação.



Corno se nota não havia dificuldade que não fosse superada para a instalação e posterior publicação do tradicional DIÁRIO DA TARDE, cujo primeiro número apareceu no dia 10 de fevereiro de 1928 numa sexta-feira, precisamente às 15,30.



Creio que da primeira equipe do cinqüentão jornal apenas ainda permaneço no mundo dos vivos. De fato, um privilegio.

Rubens E. Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 11/02/1978

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