RIO — Há dias tomei conhecimento da trágica morte de Arsênio de Souza, velho conhecido, dos bons tempos em que, invariavelmente, as delegacias policiais do interior baiano eram ocupadas por tenentes da Policia Militar. Pessoa equilibrada e de uma educação aprimorada, o nosso tenente Arsênio fazia parte de uma turma de tenentes espalhada pelo Sul baiano da qual participava, dentre outros os tenentes Salomão Rheu, Alfredo Coelho e Isaías Reis. todos com passagem pela Delegacia de Ilhéus, prestando segurança e defendendo a integridade física dos componentes da população.
Pelo que soube a morte do estimado, policial foi consequência do seu cavalheirismo. Notando que uma senhora em estado interessante, estava mal acomodada no coletivo em que viajava, cedeu seu lugar a passageira, sendo atingido pelo desastre, já que o impacto foi atlngí-lo justamente na vaga pertencente, momentos antes, a passageira. Isto é o que todos nós chamamos de destino. Porém para mim, o antigo delegado foi vítima da delicadeza que sempre o acompanhou.
O Salomão Rhem também é da estirpe do seu companheiro morto. Trata-se de elemento que sempre se manteve equilibrado, não se deixando trair pelos excessos tão naturais em autoridades policiais, dada a sua formação. De Alfredo Coelho e Izaías Reis, notava-se uma diferença sobre os dois primeiros, devidos algumas intervenções quando no cumprimento do dever, mas eram exaltações passageiras e, de modo geral, os quatro podiam ser enquadrados no time daqueles que costumamos chamar de «boas praças».
O então Alfredo Coelho que estava como delegado especial em Belmon te com a função de defender as autoridades constituídas presididas pelo Washington Luís, em 1930, quando da vitória da Revolução de Outubro daquele ano, consta que foi o primeiro a usar o tradicional lenço vermelho do movimento getulisla. Em Canavieiras era voz corrente que o Almerindo Rheu foi ajudado por um sargento da policia, na sua ascenção na policia militar e que só depois de “ajudar" Salomão, deu "uma mãozïnha” ao sargento que apesar de ter alguma influência na tropa, continuou, por muito tempo a «marcar passo».
O meu contato maior foi justamente como tenente Izaïas Reis que, soube depois, pedira baixa da policia, num ato Impensado e muito trabalho, depois, para conseguir a reintegração.
Acompanhei algumas diligências policiais, como .repórter, dirigidas pessoalmente pelo Tenente Izaías, sendo a mais emocionante a do “Crime dos Carillos”- um dos mais trágicos Ocorridos na década de 30- O modo humano como o delegado orientava seus subcrdinados para remover suas vitimas, ao meu ver, resultou na recuperação das quatro pessoas da família de vendedor ambulante Ezequiel deixadas pelas bandidos, como mortras. O transporte das vít;mas em caminhão efetivamente de não fosse bem orientardo resultaria, sem dúvida, em suas mortes.
Certa vez, com um grupo de amigos, fui a uma macumba no Iguape. O camdoblé se anunciava, animadíssimo, com muita comida «adendezada» e bastante bebida, pois ia haver uma matança. A função seria num amplo quintal e lá chegando tudo estava preparado para o grande momento, à meia noite. As panelas com caruru e vatapá exalavam o tratí;cional cheiro do dendê. Os tabuleiros com acaçá, abará e acarajé aguçavam nosso apetite, Quase na hora aprazada para começar a festançaj chega a policia, tendo a frente o tenente Isaías que deu voz de prisão a todos.
Ao me ver pergunta que estava fezendo e ouvindo a resposta de que estava fazendo reportagem, ele mandou que eu ficasse ao seu lado, o mesmo fazendo dois dos meus companheiros: Carlos Rogaciano e Osvaldo Mota.
De outra feita, fui solicitar ao Tenente Izaias que soltasse Turiba um biribano gazeteiro que jogava no meu time «Guarani», pois naquele dia .o clube jogaria, e o ponta esquerda havia sido preso no Alto da Conquista, como participante de um «sururu». Para dramatizar a situação disse que o detido estava na cadeia há mais de 24 horas, sem culpa formada. Izaias reagiu dizendo que não tinha nada com 24 horas.
Como não deu solução procurei o Deputado federal e chefe político Artur Lavigne, que mandou um cartão ao delegado, pedindo que me atendesse . O delegado lendo o cartão cxclamou: Estes políticos...
E, mandou Manoel Alves, comandante do destacamento soltar Turibio.
Rubens E. Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 06/07/1979
terça-feira, 11 de novembro de 2008
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