RIO— Assistir a chegada de um navio da "Bahiana", voltando da escala, do Sul do Estado, era uma rotina. Qualquer hora que chegasse o barco, lá de Mucuri, passando por Canavieiras, lá estava na expectativa de notícias da minha região.
Naquele dia o interesse era maior, pois na polícia, soube que de Belmonte viria preso um perigoso elemento, por ter a polícia encontrado em sua residência, farto material de propaganda integralista, encoberto por uma camisa verde.
O navio deveria chegar a tarde e, logo cedo, me dirigi para o cais a aguardar a chegada d conterrâneo perigoso, pois ainda não sabia de quem se tratava.
Ao atracar na Ponte nº.l, na Praça Firmino Amaral, e depois da saída normal dos passageiros, a polícia toma as providências a fim de que o subversivo" desembarcasse. Uma surpresa me aguardava. O preso era nada mais do que Artur Funileiro um pacato bonachão, meu colega de estante na Lyra Popular, onde tocava contrabaixo, incapaz de maltratar ou contrariar qualquer pessoa e mesmo como elemento da filarmônica, participando de uma turma que não era de "brincadeira", reagia com um sorriso a uma pilhéria por mais pesada que fosse.
Pensei ter havido um equivoco, apesar deste pensamento ser temerário, pois Artur era por demais conhecido na cidade.
Imediatamente entrei em contato com o delegado regional Dr. Almir Brandão, solicitando informações para tomar as. providências no sentido de minorar a situação do velho amigo.
Nas investigações nada foi apurado contra o detido que poderia regressar a sua terra, dependendo apenas de pequenos detalhes processuais.
Acontece que no dia da solução do caso, o que só ocorreu a noite, um navio da "Bahiana", estava no porto e, dentro de poucas horas, deveria seguir para o sul. Com a agencia fechada e as folhas de passageiros oficializada pela Capitania, não foi possível comprar a sua passagem de volta e a questão era evitar que o "perigoso" permanecesse em Ilhéus por mais de 20 dias, quando teríamos novo transporte para o Sul. :
Novamente procurei Dr. Almir para uma solução que, felizmente, foi encontrada. Na época, periodicamente a polícia "deportava" para o Sul, uma leva de malandros, desocupados e "beríbanos" e mais ; uma leva estava pronta para a: viagem- O jeito foi "encaixar" o "subversivo”, que nunca mais foi incomodado pelas autoridades.
Na luta da defesa do Funileiro uma pessoa colaborou intensamente mas,: por motivos óbvios, não podia aparecer. .Era Alberto Storino, nosso conterrâneo, já desaparecido.
Rubens E. Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/Ba 04/02/1978
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
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