domingo, 16 de novembro de 2008

Rio ─ Ilhéus, antes das BR-116 e 101

RIO ~ Foi um. encontro fortuito,. em frente ao desaparecido Hotel Avenida-— o preferido dos ilheenses — com Elísio Nunes, pioneiro dos transportes coletivos na Capital do Cacau. Foi em julho de 1943, justamente quando estava em dificuldades devido a guerra, procurando resolver como chegar a Princesa do Sul, a fim de transportar a família para o Rio, onde acabara.de fixar residência.



Naquele encontro com o saudoso homem de negócios, ficava praticamente solucionada minha situação, pois Elísio Nunes me ofereceu uma passagem no ônibus que acabará de adquirir em São Paulo, para aumentar a sua frota que fazia ligação rodoviária na zona Cacaueira. Apenas um detalhe: A viagem iniciada na cidade mineira de Montes Claros, para onde deveria me.dirigir e estar em determinado dia. A cidade distava do Rio cerca de 1.116 quilômetros por via ferroviária .



No dia aprazado iniciei a viagem, na "gare" Pedro II com destino a Minas Gerais, ou melhor Belo Horizonte, cheguei depois de 16 horas, durante as quais em as paradas era obrigado a exibir documentos, de identificação à policiais. Depois de pernoitar na capital mineira, prossegui viagem» ainda de trem, por mais de 10 horas, até Montes Claros. Mesmo incômoda, devido ao entra e sai de passageiros com as mais variadas bagagens, a viagem de trem, pelo interior é bastante divertida



Agradável surpresa me aguardava em Montes Claros. Lá estavam, entre os 13 passageiros, componentes da comitiva, Henrique Lucas e família, além da esposa do Nunes e os comerciantes Tagarela e Moisés. Todos conhecidos que serviram para amenizar os percalços da viagem feita em estradas intransitáveis, na sua maior parte e que exigia muito da perícia do motorista António, verdadeiro "az" do volante: O motorista ia imune as reclamações dos passageiros que não se cansavam da criticar o governo pelo estado das estradas. Em compensação, parecia estar confiante nas orações de D. Graziela Lucas, que desde o embarque no ônibus não abandonou seu rosário, fazendo prece pela integridade dos seus companheiros.



Foi; de fato,uma viagem interessante e cheia de surpresas,- tais como a existência na cidade de Francisco de Sá, de uma calçada a cristal de rocha, mantida intacta apesar de na época ò mineral se constituir de matéria prima de alta utilidade nos preparativos bélicos para a segunda grande guerra. Também surpreendeu a comitiva a temperatura negativa de um lugarejo chamado Itamaratí, que, para a gozação da maioria, obrigou Henrique Lucas lavar o rosto usando luvas. O preço da cachaça, mais barato que um cafezinho também nos chamou a atenção.



Finalmente,depois de três dias chegamos a Vitória da Conquista e depois de uma noite de descanso seguimos para Ilhéus. A viagem que era animada com as piadas de Tagarela, ficou animadíssima com a adesão de mais um companheiro, Hamilton Almeida e as 13 últimas horas foram efetivamente maravilhosas e descontraídas. Ao atingir o ápice da Serra do Marçal, a delegação foi obrigada a descer e seus componentes a deixar seus autógrafos, numa homenagem ao seu construtor, o conterrâneo Raymundo Costa. A rodovia ligando as três serras é, de fato, uma obra monumental “da engenharia brasileira”.



Ao chegar a Ilhéus a comitiva havia percorrido, além dos 1.116 quilômetros ferroviários, mais 889 quilômetros rodoviários, levando cerca de -4 dias. Hoje, apenas 21 horas, pela litorânea e 29 pela antiga Rio-Bahia. se faz- esta ligação, isto porque o DNER limitou a velocidade dos veículos.



E por falar em estradas é bom se fazer um apelo ao "Departamento de Estradas de Rodagem no sentido de .uma eficiente conservação nas rodovias, pois nas duas principais vias que ligam Sul ao Norte, existem trechos intransitáveis.

Rubens E. Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 12/07/1978

Nenhum comentário: