domingo, 16 de novembro de 2008

Anistia ─ assunto do momento.

O envio ao Congresso do projeto da Lei que concede anistia a - maioria dos cassados pela Revolução de Março, é o assunto predominante aos círculos políticos e sociais do País. Todos comentam a decisão do Presidente João Baptista de Figueiredo. Uns achando o 'projeto ótimo e outros fazendo restrições por não ter o Presidente proposto que a concessão fosse irrestrita.



O documento oficial, muitos políticos que estão afastados do País, há longos anos, retornarão ao solo pátrio. Dentre eles estão Miguel Arrais, Francisco Julião, Gregório Bezerra e, sem dúvida, o mais importante, Luis Carlos Prestes, secretário geral do ex-Partido Comunista do Brasil, campeão dos favorecidos pelas anistias, desde os idos de 22 e que em 1924 promoveu o levante de Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1898.



Conhecida em todo o mundo por ter sido chefe da Coluna Prestes que " percorreu grande parte do País, em que participaram ,entre outros, os tenentes Siqueira de Campo, Juarez Távora, Cordeiro de Farias e Newton Prado e que só não participou da epopéia f .dos "18 do Forte', dos quais sobrevive apenas Eduardo Gomes, por estar acamado, vítima de febre palúdíca. Também não acompanhou Getúlio na Revolução de 30, afastado do Exército, por convicções socialistas.



Contrapondo a Ação Nacional Integralista de Plínio Salgado, fundou a Aliança Nacional Libertadora, em 1936; depois de fracassada a Intentona Comunista de 1935? quando foi preso aqui no Rio de Janeiro.



Em conseqüência da reação dos aliados, na Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas, o anistiou nos primeiros meses de 1945, quando reorganizou o Partido Comunista Brasileiro e participou das eleições daquele ano, quando foi eleito senador pelo então Distrito Federal, além de vencer em vários estados da Federação os pleitos para deputado federal, onde seu partido dentre outros, elegeu o grande escritor e membro da Academia Brasileira de Letras. Jorge Amado, representante de São Paulo. Depois na gestão do Marechal Eurico Gaspar Dutra, foi cassado. juntamente cem seus companheiros parlamentares.



Em 1945, conheci pessoalmente Carlos Prestes tendo obtido na Rua Conde Lage. na Glória, seu quartel general, uma entrevista para o “Diário da Tarde" a pedido de Francisco da Silveira Dórea, seu diretor.

Antes da entrevista, cumprindo uma resolução do Conselho de Locatários do Conjunto Residencial do Realengo, do qual era presidente, promovi visita da líder comunista a Realengo, após sua saída da prisão.



Na época era obrigatório levar ao conhecimento do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, qualquer movimento individual ou coletivo dos moradores, por intermédio do Conselho de Locatários, motivo porque depois da decisão do órgão representativo dos moradores ,de convidar Prestes para um debate público. entrei em contato ccm o presidente do ex-IAPI, Dr. Plínio Catanhede, para receber o "aval", conforme aconteceu, como também foi aceito dirigente máximo do Instituto o convite para presidir o ato publico realizado em frente ao coletivo da Rua Marechal Modestino.



Foi um grande debate em que Prestes respondeu a todas as perguntas sobre os mais variados temas.

Na ocasião ocorreu um fato curioso. Presidente do Conselho e da organização do debate constantemente estava em contato com meus companheiros" do Conselho que fiscalizavam a concentração. Nesta situação raramente ocupava meu lugar na mesa oficial.

A certa altura, depois de tomar uma providência, volto ao meu lugar. Porém ao subir no palco fui obstado por determinada pessoa que tentou impedir minha entrada. Não usei o clássico sabe com quem está falando apenas com estas palavras:

— Sabe que está falando com o responsável por esta concentração?

E calmamente tomei meu lugar entre o Dr. Plínio e Carlos Prestes.

Rubens E. Silva. Jornal da Manhã.Ilhéus/BA 12/07/1979

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