domingo, 24 de maio de 2009

Um pouco de Ilhéus antigo (2).

Rio — A praça Cairu está sendo-remodelada e dentro cm breve, segundo o JORNAL DA MANHÃ, será reinaugurada podemos, dizer, graças a campanha promovida por este jornal, inclusive, no sentido de ser eliminado o «curral» construído pela desativada Estrada de Ferro Ilhéus a Conquista.
A Praça Cairu, nas primeiras décadas do século, até a proibição do jogo no país, além de ser um divisor da cidade, era o ponto preferido dos freqüentadores da zona do «meretrício», que abrangia uma larga faixa compreendida entre a Praça Seabra e o Gameleiro, abrangendo as ruas Paranaguá, Linha e Araújo Pinho, o .verdadeiro «foco», onde o mulherio livre concorria com os viciados na jogatina, pois ali era bancado toda a espécie de jogo durante às 24 horas do dia.
As dimensões da Cairu eram pequenas, pois antes da rua 7 de Setembro existia ura pequeno quarteirão, onde uma casa comercial ficava em frente da artéria. No quarteirão além de existir um pardieiro onde estava localizada o víspora de Manoel Goiano, residia um dos responsáveis pela vida noturna da cidade, ou seja, João Grande, que era gerente do Bataclan, no Largo do União e da Iria, tradicional vendedora de mingau, cujo ponto era em frente ao Café do Calixto, na Firmino Amaral. Havia ainda um barracão da Estrada perto de onde está localizada a bomba de gasolina do ex-prefeito Herval Soledade, que dificultava o acesso à rua Carneiro da Rocha. A padaria ainda existe mas desapareceu uma barbearia e uma casa de cômodos que deram lugar a casas comerciais, findando com um açougue, perto do bar Guanabara, onde hoje todas as tardes, se localizam vendedores de verduras e quitutes.
Do lado da Estrada existia uma área onde às sextas e sábados , era localizada a feira livre, havendo ainda um pequeno campo, onde ferroviários realizavam «peladas», tendo dali surgido um dos bons clubes da cidade, ou .seja o Guarani, que disputou uns dois campeonatos oficiais.
No Gameleiro, as ruas Carneiro da Rocha, 7 de Setembro, Pimenta até a Ponta da Pedra, praticamente não houve modificações substanciais, a não ser a obstrução de valas infectas e reforma de alguns prédios.
Na Pimenta de Baixo, para onde foi mudada a cadeia publica, que estava localizada nos fundos da Prefeitura Municipal, na Praça Seabra, hoje está localizado ura ponto de vendagem de peixe, na esquina da rua Maria Quitéria.
Lamentavelmente, quase completamente abandonado, junto a estação ferroviária, está o palacete dos Berbert de Castro que, a meu ver, deveria ser transformado em museu, mesmo depois da mudança do Estado Maior da Policia Militar, que ali esteve sediada.
Certa vez, em pleno dia, a Cairu foi palco de uma cena, até certo ponto cômica.
Conhecido advogado, depois de uma séria discussão numa casa de cômodo existente junto a então Padaria Buarque, sai em desabalada corrida, vestido apenas da sua cueca e não fosse a providencial ajuda do barbeiro vizinho lhe entregando um capote, a situação do causídico agravaria mais o escândalo provocado pelo ato.
Como repórter procurei o autor da façanha, meu amigo e, como resposta a uma pergunta por que procedera daquela forma, recebi a seguinte resposta:
— Diga francamente, você já esteve num quarto acuado por uma mulher desesperada, empunhando um punhal deste tamanho?
Não tive outra alternativa, dei razão ao jovem advogado.

Rubens E da Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA 26/06/1978

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