domingo, 24 de maio de 2009

A filha do tenente Miguel Rocha.

RIO — Naquele domingo ainda, quando estava de saída para dar um expediente na minha Associação dos Inativos, ouço insistentes toques na "cigarra", que anunciavam a presença de visitas. Me dirigi à porta. Lá estava, visivelmente anciosa, uma senhora dizendo-se interessada de conhecer-me pessoalmente. Havia lido no ''Tabu", um bem impresso quinzenário de Canavieiras, transcrito do JORNAL DA MANHÃ, uma crônica, que lhes dava certeza absoluta ter o cronista conhecido seu pai, o tenente Miguel Rocha, destacada figura da cidade sulina, nos idos de 1920 a 1940.

A crônica era "Zé Vencedor e os Quatro Ovos" e se referia a uma fracassada excursão de um combinado belmontense a rival cidade vizinha, cujo vesultado foi uma verdadeira "lavagem", nos visitantes, pelo escore de 4x0.

Terezinha, o nome da visitante curiosa, falava "pelos cotovelos". Dizia-se assinante do "Tabu" e destacava, com euforia, as qualidades do seu saudosó pai, com rasgados elogios, fazendo com que ficasse, até certo ponto, oprimído, por não ter o prazer de conhecer o tenente Miguel Rocha.

Da família, cheguei a conclusão que só conhecia o tio e o primo da Terezinha. O primeiro, maestro Isidro Rocha, excelente pistonista e melhor regente musical. O segundo o exímio clarinetista Adalberto Rocha, funcionário do INPS lotado na ag~encia de Salvador. Como o pai, uma "boa praça".

Quando falo do regente Isidro Rocha, lembro da sua afinadissima filarmônica Lira de São Pedro, de Boca do Córrego, então distrito de Belmonte. Certa vez, convidada para participar das festividades em louvor à Nossa Senhora do Carmo, o maestro desembarcou em Belmonte alta madrugada, açordando a cidade com um vibrante dobrado de autoria do maestro Messias da Costa. A execução daquela partitura, por uma afinadissima banda, numa silenciosa cidade banhada por uma lua cheia no explendor de sua luminosidade, dificilmente sai da lembrança de qualquer pessoa, principalmente daqueles apreciadores da sublime arte de Mozart e Beetoven.

Ao declarar não ter conhecido pessoalmente o velho tenente Miguel ,senti que a Terezinha ficou decepcionada. Não era para menos. A visitante tinha absoluta certeza de que, como assíduo visitante da sua terra, deveria conhecer seu pai cujo nome constantemente está saindo nas colunas do "Tabu", mas assíduo da coluna "Antigamente", de notícias compiladas de jornais antigos, editados na cidade sulina.

Ante o interesse da visitante, funcionária da Prefeitura do Rio de Janeiro, colega de uma filha, resolvi não decepcioná-la, dando um "jeito" na sua curiosidade, prometendo-lhe apresentá-la a um amigo que, fatalmente havia conhecido seu pai.

A pessoa escolhida era o amigo irmão Symaco da Costa, o canavieirense mais belmontense que conheço, hoje gozando uma tranquila aposentadoria, de pois de um "batente" de mais de 35 anos. Reside em Queimados, neste Estado. Marquei o dia do encontro sem avisá-lo e cedo partimos para sua casa, acompanhados da minha esposa, filha e genro.

Chegando a Rua S. Humberto, a comitiva foi recebida, corno sempre, festivamente pelo antigo titular do Registro Civil de Canavieiras, o trovador Symaco da Costa. Depois de desencadear o portão, sempre fechado por motivos óbvios, a apresentação de Terezinha, até aquele momento estranha para o anfitrião.

Daí em-diante a filha do tenente Miguel assumiu as ações, juntamente com o dono da casa, enquanto Izabel, a patroa, preparava o almoço. Creio que canavieirense ficou amplamente realizada, pois a sua cidade dos tempos de seus país, foi "revirada" desde a Birindiba ao Caís do Porto.

Na volta Terezinha se mostrava satisfeita e até eufórica, pois o velho Symaco conheceu o Sr. Rocha, que participava, realmente, de todos os eventos sociais de Canavieiras. Era um eficíente colaborador das atividades da pacata e histórica cidade da região cacaueira, que teve a primasia de plantar o primeiro cacaueiro no Estado da Bahia, em 1746, na Fazenda Cubículo, às margens do Rio Pardo.

Rubens E Silva. Jornal da Manhã. Ilhéus/BA

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