domingo, 24 de maio de 2009

A cruel matemática do Banco Nacional de Habitação.

Fui um dos primeiros locatários 'do Conjunto Residencial do ex-IAPI, de Realengo, graças a concessão dada pelo engenheiro Plínio Catanhede, presidente da autarquia a quem recorri dias depois de encerrá-la a inscrição para os futuros moradores do então primeiro conjunto residencial de trabalhadores. O fato se verificou em princípios de 1943 tendo como justificativa minha família composta, na época de 9 pessoas, residentes em Ilhéus, aguardando a ordem de embarque, o que aconteceu em agosto do mesmo ano, no auge da segunda Guerra Mundial.

A escolha da casa foi feita graças aos companheiros da falecida Gráfica Heitor Ribeiro, alguns dos quais já inscritos, pondo fim a intensa luta na procura de um "canto" para alojar minha turma ansiosa para se transferir de Ilhéus, pondo fim aos 10 meses de espera.

Pousado em Realengo passei a participar ativamente dos movimentos sócio-recreativos da localidade fundando, com outros companheiros, o primeiro clube loca! — Centro Recreativo Industriários de Realengo — transformado em centro reivindicatório da comunidade, do qual fui presidente por 3 vezes. ,

O Conjunto foi construído peio ..ex-Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários por iniciativa do saudoso presidente Getulio Vargas tendo como base casa própria para os trabalhadores. Entretanto depois de habitado, ou seja um ano após a legislação foi alterada peia Portaria ;CNT-96, adotando uma espécie de e uso fruto para os dependentes do locatário com direito aos benefícios previdenciários. A viúva até a sua morte e os filhos inválidos ou menores de 18 anos (homens) e 21 (mulheres). A modificação não agradou, porém quando Getulio Vargas retornou ao poder substituindo o presidente Dutra, nova alteração da lei para pior gerando protestos de todos os moradores de conjuntos residenciais, obrigando o governo assegurar aos antigos locatários os direitos anteriormente adquiridos. Isto em 1953. Presidia o

ex-IAPI o Sr. Afonso Cezar e a campanha praticamente pelo Conselho de Locatários de Realengo, sob a minha presidência e com a participação dos locatários e entidades representativas de Irajá, Coelho Neto, Bonsucesso, Pilares, Padre Miguel, Del Castilho e Cascadura.

Tudo praticamente tranqüilo quando veio a Revolução de 1964. Acreditávamos que os conjuntos residenciais não fossem incomodados. Mesmo porque já estávamos residindo num imóvel construído há quase 25 anos com o dinheiro arrecadado através das contribuições dos trabalhadores e com o atenuante de que nenhum órgão oficial, pelo menos até aquela época, financiava construção edificada há mais de 5 anos. infelizmente estávamos completamente enganados. A revolução unificou os institutos, criando o Instituto Nacional de Previdência Social e, como um passe de mágica entregou todo o acervo imobiliário ao recém criado ao Banco Nacional de Habitação e este passou a explorar àqueles que com suas contribuições formaram o patrimônio dos falecidos IAPs impondo aos antigos locatários uma cruel e injusta correção monetária defendida pela sua primeira presidente a ex-deputada Sandra Cavalcante, hoje confessando-se arrependida de ter apoiado e defendido a nova ordem financeira. ;

Desejando amenizar a situação dos, locatários alguns deputados elaboraram uma ei isentando da correção os locatários dos conjuntos residenciais a qual foi vetada pelo então presidente Castelo Branco. Na ocasião diversos grupos ligados as extintas autarquias que estavam encarregados de vender os imóveis aos seus ocupantes desapareceram, dando tempo ao congresso examinar o veto presidencial enquanto apressavam o processamento das vendas dos apartamentos localizados em áreas mais valorizadas da cidade, resultando em que os abonados compradores de apartamentos construídos em Copacabana, Botafogo e Tijuca hoje estão livres da correção enquanto os trabalhadores locatários em imóveis nos subúrbios acima citados estão sofrendo o impacto das constantes majorações determinarias pelo BNH, ratificadas por um meritíssimo que numa ação solicitando eqüidade no tratamento dado aos ricaços achou justo que os trabalhadores argúem com as constantes elevações dos alugueis em beneficio dos privilegiados locatários da zona sul do Rio. Sabem por quanto está um imóvel comprado em 1966 por Cr$ 3700,00? Apenas por Cr$ 40 mil sem contar com as prestações mensais pagas.
Rubens E Silva, Jornal da Manhã Ilhéus/BA 28/01/1981

Nenhum comentário: