RIO — O Dendê, onde se centralizava a vida noturna de Ilhéus e compreenda uma área que abrangia a Rua Araújo Pinho até o Filtro, se espalhando pela Pimenta, naquele dia dos idos de 1935, começava a. se movimentar, pois as sessões dos cinemas Vitória e Ilhéus já terminaram, quando uma notícia, se espalhou, quase parando as atividades da boêmia:
— "Mataram Zé Luiz, no Corte da Av. Itabuna", O impacto foi tremendo e uma turma de curiosos se dirigiu ao local, de pouco movimento e sem iluminação. Muita gente sabia que José Luiz de a muito vinha lutando contra gente interessada em conquistar a sua fazenda de cacau, não medindo conseqüências para alcançar seu objetivo. Também todos sabiam que o Zé Luiz era um caboclo decidido e que vinha enfrentando a situação com desassombro. Porém, o que mais impressionava era ter sido o crime praticado na cidade e ter a vítima se exposto tão facilmente.
Participeí das diligências desde o levantamento do cadáver até o enterro, assistindo também a autópsia feita pelo Dr., Luiz Passos ,que ficou admirado com o estado físico do morto, pois seus órgãos vitais estavam perfeitos e, segundo o médico, tinha vida para muito tempo.
A polícia atuou com uma precisão extraordinária e, em cerca de 24 horas, tinha em mãos todas as pistas. O crime foi facilitado pela própria vitima que, apesar de valente, acreditava em forças ocultas, do baixo espiritismo, procurando macumbeiros que lhe “fechassem” o corpo. Era até certo ponto um fanatismo. Aproveitando este conseguiram sucesso na sua empreitada apesar de algumas vezes as “tocaias" terem falhado.
Naquela noite acompanhado de um compadre a quem. protegia financeiramente a vitima foi levada a uma “feiticeira" localizada na Carneiro da Rocha e lá, depois de receber uns passes, lhes foi entregue um " despacho" e a recomendação de que seguisse até o local indicado sem entretanto olhar para trás. Seguindo a risca o conselho da macumbeira, Zé Luiz ao chegar no ponto indicado (primeira encruzilhada da Avenida Itabuna), fez uma ligeira prece e, ao se abaixar para completar o ritual, recebe certeira facada que atingiu o coração, depois e atravessar o pulmão e atingir um rim. Ao ser atingido tentou sacar do seu punhal mais faltou-lhe forças para a reação.
Este relato foi feito por uma testemunha que, ocasionalmente, passava no local do crime e ainda viu o assassino subir a ladeira em direção a Rua Terezópolis.
O crime foi tramado por Pedro Guarda, o amigo 'a vítima que.arregimentou dois jovens para executar a empreitada. Por duas vezes os rapazes tiveram oportunidade de efetuar o crime mas lhes faltou coragem. Porém ameaçados de morte fizeram a terceira tentativa com completo êxito. Um deles, empregado do Colégio das Freiras, ao ser preso motivou um veemente protesto das freiras que não acreditaram ser seu empregado capaz de hediondo crime, e só acreditaram porque o punhal assassino estava guardado numa toiceira de gravatá, existente na entrada do Colégio.
O Pedro Guarda durante o velório e por ocasião do enterro não largava a alça do caixão, chorava copiosamente, ao mesmo tempo que jurava vingança aos matadores.
Segundo corria na época, o crime teve outros desenvolvimento Pois terceiros estavam envolvidos na trama foram eliminados misteriosamente.
Os bons antecedentes dos envolvidos pela lábia do Pedro Guarda, não os livraram da condenação, mas seu comportamento na penitenciária motivou a escolha para desempenhos administrativos no cárcere até o final do cumprimento das penas.
Do Pedro Guarda nunca mais tive notícias.
Rubens E Silva. Jornal da Manhã
domingo, 24 de maio de 2009
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